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A INFLUÊNCIA VIRTUAL E A DEFESA PESSOAL

As implicações positivas e negativas da ação de influencers na defesa pessoal


Wesley Gimenez



RESUMO


Este artigo discute o poder da influência virtual e suas implicações para a defesa pessoal. Principalmente no tocante a seres em formação, como crianças e adolescentes , mas sem deixar de lado a capacidade de seres adultos de terem seu comportamento e ideias alterados por meio do apelo midiático e virtual dos ?influencers digitais?, é preciso se proteger, mente e comportamento, de atividade nocivas ou que induzam a estilos de vida destrutivos.


O alerta deste material observa a mudança de era em que estamos, com metaverso, internet 5.0 e a presença cada vez maior de dominação, não mais pela força, mas pela maior arma do século XXI: a influência.


Palavras-chave: Influência. Internet. Metaverso. Redes Sociais. Sobrevivência.

 


1        INTRODUÇÃO

 

Um vídeo viral mostra o poder da influência e, ao mesmo tempo, destaca um objeto de estudo das neurociências: os neurônios-espelho. No vídeo em comento, um senhor entra no metrô lotado, fone de ouvido e celular em mãos. A cena é de concentração e monotonia. Até que este rapaz começa a rir.


De início, de maneira discreta, mas depois, às gargalhadas, chegando quase a histeria.

As pessoas se assustam no começo, mas logo o susto vira gozação e em questão de segundos, todos estão chorando de rir, sem mesmo entender ou ouvir o que aquele senhor ouviu de tão engraçado ao celular. Estão rindo, literalmente, em reação ao período alegre do rapaz.


Essa reação, que nos faz sorrir quando alguém começa a gargalhar, ou imediatamente nos faz bocejar quando alguém boceja é associada a uma área do sistema límbico e a um conjunto de neurônios responsáveis pela reação empática. Dizem que, se você bocejar diante de alguém e não obtiver reação alguma, tome cuidado, pode ser que você esteja diante de um sociopata ou um psicopata totalmente sem empatia.


Brincadeiras (ou não) à parte, a influência modela nossas vidas. Uma frase motivacional muito conhecida e atribuída a muitos autores diz que você é a média das cinco pessoas mais próximas de você. Isso quer dizer que você é o resultado das influências que cativa. O autor estadunidense Mitch Albom, que tem profissões demais para enumerar aqui, escreveu um livro sobre como as pessoas influenciam determinantemente a vida de outras e às vezes nem se dão conta disso.


?As cinco pessoas que você encontra do céu? (Editora Sextante, 2003) fala disso e de forma impressionante demonstra o poder incalculável da influência.

Por isso, em pleno século XXI, em que ?influência? é palavra de ordem e elemento determinístico na sociedade. Há lados sombrios que devem também fazer parte das nossas reflexões.


Na era dos ?influencers digitais?, comportamentos e destinos são traçados pela moda, pela forma de vestir, falar, se comportar e até mesmo pelo estilo de vida que se adota ou a religião que se professa. Diante de tão grande poder, é preciso entender como devemos nos proteger do lado ?escuro? desta força que, tão poderosa quanto a gravidade, é chamada de ?influência?.


2        Influencers digitais do Mal: O caso baleia azul.


A digitalização da economia deu uma grande importância à criação de uma ?sociedade em rede?. Tecnologia e disseminação de conteúdo em larga escala fez o que futurólogos e gurus da administração e economia como Peter Senge, Peter Drucker, Dan Scott, Adalberto Chiavenatto e outros antecipassem tendências com 30, 40 ou 50 anos de antecipação.


Gil Giardelli, um dos maiores nomes que destaca a mudança de era em que atravessamos e que tem alto conhecimento na área de robótica e inteligência artificial destaca que essa nova etapa da humanidade é uma era que tem paixão pelo conhecimento ou paixão pela ignorância. Nesse sentido, o ignorante sempre deixa que outro decida por si. O inteligente é aquele que influencia, que gera engajamento e que persuade.


Em um mundo dominado pela internet, a influência digital é o retrato de poucos inteligentes manipulando o maior número de pessoas que puder.

Quando essa influência busca o despertamento para mudanças, o aperfeiçoamento do pensamento e o compartilhamento de boas ideias, o ciclo é virtuoso. No entanto, há influências que buscam Caos, domínio e destruição. Um exemplo é o caso da Baleia Azul, jogo popularizado na internet que levou mais de uma centena de adolescentes ao suicídio.


O jogo ?inocente? partiu desse conceito de influência, que dissemina aos poucos, um padrão de comportamento ?desejado?, até que se atinja, depois de dominada a mente do ?público-alvo?, um sacrifício total. Esse sacrifício pode ser os bens, as senhas pessoais, a alma, a sanidade mental, o relacionamento amoroso e até mesmo a vida, como no caso do jogo citado.


Toda vez que uma nova ?tendência? chega à internet, é preciso examinar quais ganhos e quais riscos estão associados. Personagens carismáticos, músicas psicodélicas, vidas ilusórias em redes sociais, vestimentas minúsculas ou estranhas, comportamentos ?livres? que aprisionam em um vício hedonista sem volta, e outros jogos de ?influência? ameaçam a vida das pessoas tanto quanto uma faca ou uma arma de fogo.


3        O poder dos influenciadores digitais.


Em 1760 uma marca de porcelanas inglesa utilizou uma rainha como garota-propaganda. Essa primeira fase dos influenciadores, cresceu até os confins do mundo ao chegar à internet. Há influenciadores digitais que arrastam multidões e ganham milhões sem jamais terem aparecido na televisão ou lançado uma música de sucesso ou uma obra de arte. Atingem milhões de pessoas em diversos países, às vezes, sem sequer falar uma palavra de inglês ou mandarim.


Mesmo assim, o poder dos influenciadores digitais vai desde o tipo de consumo até atitudes e comportamentos. Crianças e adolescentes passaram a ser copiados e a copiar o modo de falar, vestir, gastar e encarar a vida a partir da influência a que se submetem nas redes sociais e canais de mídia interativa.


A vida aparentemente luxuosa e feliz de ícones da internet passou a ser o alvo de inúmeras pessoas que, em busca de likes e projeção venderam barato seus escrúpulos e até mesmo gostaram de induzir, enganar e seduzir, estando dispostos até mesmo a cometer crimes em busca de milhões de views. Já se discute entre juristas a responsabilidade civil e penal do influenciador digital.


O chamado ?Marketing de influência? virou febre entre as empresas, que disputam pela contratação de influenciadores. O mercado já movimenta bilhões. Em um mundo digital, em que existem mais ?opções? do que capacidade de escolha, deixar-se influenciar por uma ?tendência plantada? é uma forma de diminuir o ?stress? de ter que escolher, decidir. Adolescentes, que estão em um período de transição em suas vidas e escolhas, sentem-se perturbados pelas múltiplas opções, buscando o conforto de ?não ter que decidir? apenas deixando-se levar pela ?vibe do momento?.


Essa dependência que, começa pequena e se avoluma com o passar do tempo pode ter sérias consequências. A cultura do cancelamento, Bullying Digital, submissão à vergonha e exposição da intimidade na busca de likes pode causar diversas doenças psicossociais. Depressão, ansiedade, transtornos diversos podem ser fruto de uma vida ?idealizada? nas telas de celular e que não preparam ninguém para a realidade da vida.


A saída acaba sendo refugiar-se no ?virtual?. A recente expansão do chamado ?metaverso? vai nos mostrar como a extinção das redes sociais pode deixar um legado doloroso de pessoas cyberdependentes, com gigantescas lacunas emocionais e que não sabem se proteger nem sequer de si mesmas, quanto mais de outros seres humanos. Segundo pesquisas, há hoje, 230 milhões de aparelhos celulares ativos no país, e 180 milhões de computadores, notebooks e tablets sendo utilizados no Brasil, uma prova da hiperconectividade existente.


É por isso que as chamadas ?competências socioemocionais? estão ganhando força até mesmo nas políticas públicas de educação. Saúde mental tem sido prioridade em diversas iniciativas governamentais pois o risco de milhões ficarem sob o domínio de poucos, apenas por jogos de influência, valorizando performance e carisma ao invés de caráter, causa arrepios nos governos mundiais e nos verdadeiros formadores de opinião.


É por isso que, além da defesa do corpo, com treinamento adequado e bons ?monitores? e ?treinadores?, a arte marcial que deseja realmente fazer diferença em um ?mundo de influências? vai precisar ensinar também a se ter uma ?nova mentalidade?. O poder das más influências só pode ser vencido pelas boas influências. Assim como um homem mau violento só pode ser vencido por um homem bom capaz de ser ainda mais forte, é que os maus influenciadores só podem ser vencidos pela disseminação de um ?estilo de vida? que preconiza as boas influências.


Nessa toada, o Krav Maga Caveira se concebe como uma ?família caveira? pois há uma influência mútua para o crescimento e o aperfeiçoamento constante, tanto do corpo quanto da mente. Não somos somente uma escola de artes marciais, pois, nosso desejo não é só ?treinar? nossos alunos, mas desenvolver neles um novo estilo de vida e uma nova mentalidade, um modo ?caveira? de enxergar a realidade e a vida. De escolher a quem influenciar e de quem buscaram influência. Isso é ser verdadeiramente ?Caveira?.


4        CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este artigo examinou o poder da influência. Em um mundo cada vez mais conectado e cheio de estímulos, tanto tecnológico quanto comportamentais, a decisão de quem ou o que te influencia pode selar seu destino para sempre. Assim sendo, a verdadeira segurança está para além da simples defesa marcial ou da capacidade física de autodefesa. A mente deve estar preparada e pronta a tomar decisões sob boas influências.


Quando adultos, temos maiores poderes de decisão e controle sobre o que nos influencia (pelo menos, em teoria). Porém, enquanto crianças ou adolescentes, estamos sob estímulos diversos e influências positivas e negativas. É preciso escolher bem o que te influencia e quais influências deixar que alcancem nossas crianças e adolescentes. Desde muito tempo as artes marciais são formas de gerar disciplina em crianças, além de poder de autoproteção.

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Incentivar crianças de adolescentes a defender-se de influenciadores do mal, e de ideias danosas no ambiente virtual é um modo de prepará-los para a autodefesa também no campo de maior batalha existente: A mente. A formação de verdadeiros ?caveiras? exige alertar que tanto mente quanto corpo devem estar preparados à sobrevivência. E mais, ser ?caveira? é um estilo de vida de quem é chamado a influenciar, a disseminar uma cultura de proteção total. Só se combate más influências com boas influências. Shalom!

5        REFERÊNCIAS



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