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NÃO SABIA QUE ELE ERA BANDIDO!

Criminosos vivendo escondidos no meio da população.


Wesley Gimenez


RESUMO


Este artigo busca destacar os perigos de estar próximo a bandidos em fuga. Por vezes, um fugitivo se esconde em meio a uma população, seja no meio urbano ou rural, buscando esconder-se da lei. Para tanto, mantém suas garras escondidas, busca amizades, mas é sisudo em relação a sua vida, manifesta preocupações e não tem parada em lugar algum.


Some tão rápido quanto apareceu. Tais indícios podem ajudar na precaução, no afastamento necessário para não estar no lugar errado na hora errada diante de um bandido em fuga. Da mesma forma, conhecer esse comportamento e a forma como bandidos famosos pelo tempo longe das grades conseguiram este feito, auxilia na identificação desse modus operandi  e assim, permite não só o reconhecimento mas a prisão de criminosos escondidos em meio à população.


Palavras-chave: Perigo. Bandidos. Disfarce. Criminologia. Comportamento.

 


1        INTRODUÇÃO

 


No dia 16 de maio de 2022, Paulo Cupertino aparece em todas as manchetes novamente. Suspeito de assassinar o jovem ator Rafael Miguel e seus pais, Paulo ficou foragido durante três anos. O fugitivo foi localizado em um hotel em Interlagos, São Paulo, pouco mais de 4 Km de distância de onde teria cometido o crime.


O Caso é emblemático pois envolve a figura penal do ?favorecimento pessoal? (artigo 348 do C.P) que é crime de prestar assistência a criminoso para furtar-se da polícia. O que espanta é o fato de Cupertino conseguir passar por tantos lugares, conviver com diferentes pessoas e passar tanto tempo longe da prisão.


Além das questões de favorecimento pessoal, é possível destacar que várias pessoas conviveram com o fugitivo sem fazer a mínima ideia de que se tratava de um criminoso procurado, e sem imaginar o risco que corriam se colocassem a identidade deste em risco.


Nesse interim, surge uma preocupação: Como reconhecer, de modo seguro, um criminoso potencial ou disfarçado? Qual comportamento identifica um indivíduo suspeito que esteja próximo a nós em nosso cotidiano? Essas e outras dúvidas são recorrentes na mente de quem observa notícias de criminosos que passam longos períodos longe da prisão, fugindo e se escondendo em meio à vida agitada das grandes cidades ou pacata das pequenas zonas rurais em diversos lugares.


Quando se pensa em segurança e defesa pessoal é preciso estudar com calma o comportamento criminoso, subindo nosso nível e capacidade de análise a fim de alcançar uma melhor expertise na proteção pessoal e da família. Não só para isso, mas também para evitar o risco de ser confundido com um cúmplice ou fornecer, por vezes sem desejar, meios de fuga a criminosos procurados.


Este artigo tratará destas questões destacando exemplos na história e comportamentos típicos de criminosos procurados, para que não seja repetido o que diversos entrevistados disseram de Cupertino em seu disfarce: ?Não sabia que ele era bandido!?.


2        Procurados da Justiça: habilidades e rede de contatos.


Ninguém consegue se safar tanto tempo da justiça sem algum tipo de auxílio. Mesmo que involuntário ou apenas no planejamento do crime. Por isso, cada procurado da justiça precisa de uma rede de contatos para auxiliá-lo, abastecê-lo ou mesmo escondê-lo em seu contínuo empreendimento de fuga.


Há exatos 2 anos atrás, em maio de 2020, cerca de 40 criminosos procurados pela justiça foram presos por meio de um consórcio internacional entre as polícias sul-americanas. Um deles, surpreendentemente, estava ?oficialmente? morto. Simulou a própria morte aos 22 anos de idade e passou mais de 9 anos em uma nova identidade no Paraguai. Outro fez cirurgia plástica para alterar o rosto e despistar a polícia, algo inclusive, recorrente entre os fugitivos, principalmente em tempos de procedimentos como harmonização facial que alteram o rosto sem grandes intervenções cirúrgicas.


Contudo, para alcançar esse fim, foram precisos contatos de clínicas, funcionários corruptos de cartórios, falsificadores, traficantes, outros criminosos em geral que davam cobertura, financiamento, apoio ou guarida a esses fugitivos. O delegado da operação que prendeu Cupertino chegou a dizer que identificaram mais de 100 lugares por onde o criminoso passou, e que o mesmo, um mês após o crime, já conseguiu documentos falsos, com extrema facilidade. Ou seja, a primeira pista para achar um fugitivo é descobrir sua rede de contatos.


Outro detalhe que facilita a vida dos procurados pela justiça está no conjunto de habilidades que possuem. Um famoso caso americano, o de Donald Webb demonstra isso. Ao assassinar um policial e fugir, Donald se tornou uma das figuras mais procuradas pelo FBI e conseguiu ficar 37 anos foragido.


Um dos seus trunfos, além da capacidade de disfarce era sua habilidade profissional, ele tinha mais de 6 profissões diferentes. Ou seja, o fato de ser habilidoso em múltiplas funções facilitava se misturar entre as pessoas, mesmo tendo tatuagens característica nas mãos e preferência por roupas chamativas.


Da mesma forma, Cupertino se misturou exercendo múltiplos papéis profissionais, desde vendedor de lanches até cuidador de animais em fazenda. As alterações no modo de vestir, comportamento e cortes de cabelo e barba, aliadas a uma personalidade mais quieta o fez passar despercebido e, segundo relatos, ser considerado ?bonzinho? onde passava. Sua rede de contatos, até agora identificados apenas dois, o ajudavam com as documentações falsas e abastecimento financeiro, até mesmo com informações privilegiadas, pois os relatos destacam que ele sempre escapava ?por um triz?.


Dessa forma, é possível perceber uma similaridade entre os bandidos procurados escondidos no meio da população: São pessoas quietas e não gostam de exposição. Tem vária habilidades, que os fazem versáteis e úteis, dispostos a trabalhar em várias funções.

São pessoas que vivem em contato ou conversas ?sigilosas?, longe dos olhares e ouvidos curiosos, contam pouco de si ou inventam histórias que, uma hora ou outra se contradizem. Vivem alterando sua aparência e não desejam ter o rosto descoberto em público com facilidade, no medo de serem reconhecidos.


E é exatamente o perfil de comportamento que facilita o reconhecimento, ou no mínimo a suspeita diante de um criminoso em potencial ou que circule pela vizinhança. Entender como um fugitivo se comporta pode ser um trunfo antecipatório para a autodefesa, gerando circuitos de alerta, afastamento, ponderação e precauções que auxiliam, se não na identificação, ao menos em menor risco de perigo em uma eventual fuga ou necessidade de esconderijo, recursos e reféns.


3        O comportamento criminoso e o perfil do procurado.



O que Luiz Carlos da Rocha e Gioacchino Gammino têm em comum? Os dois são bandidos que ficaram décadas foragidos sem serem descobertos, até que, com 61 anos de idade, voltaram para a cadeia, de onde nunca deveriam ter saído. Luiz, codinome ?cabeça branca? tornou-se um bilionário no mundo do crime e disfarçou-se de diversos modos, inclusive pintando os cabelos brancos que lhe cunharam a alcunha.


Gioacchino é um ex-mafioso italiano que só foi descoberto e preso graças à tecnologia do Google Street, que acabou por flagrá-lo em uma esquina. Os dois criminosos, um brasileiro e o outro italiano, ficaram escondidos, tiveram seus negócios, exerceram profissões e enganaram pessoas que os achavam honestos e inofensivos.


Porém, há indícios em criminosos fugitivos que podem dar uma pista se aquele ?novo vizinho? ou ?hóspede? pode ser um procurado da justiça. Alguns desses indícios forma manifestos por Cupertino em sua fuga. 1) São pessoas discretas, que se vestem moderadamente e que procuram não expor demais o rosto, por isso, preferem bonés, chapéus ou boinas que lhes escondem, ao menos um pouco a face.


Em época de pandemia, a máscara foi um bom trunfo para o mundo do crime.

2) Não gostam de fotos, exposição em redes sociais ou que sejam filmados. Alheios a festas e grandes concentrações de pessoas, por razões óbvias: podem ser reconhecidos e denunciados.

3) Criminosos fugitivos são desconfiados, tem pouco disposição em confiar, esperar, ter endereços ou números fixos de telefone. Conversam com comparsas longe de ouvidos e olhares, são dóceis e não gostam de chamar a atenção acerca de sua vida pregressa.


Além de tudo isso criminosos em potencial tem uma percepção deturpada de si mesmo e da realidade. Se tem em alta conta, acreditam que são melhores que os outros ou que todos o perseguem, que é injustiçado e incompreendido. Tem pouca ou nenhuma empatia e se aproximam das pessoas apenas em busca de algo que possa favorecer sua fuga ou seu esconderijo.


Assim, estar próximo a um fugitivo é um problema não somente na questão legal (cumplicidade ou favorecimento pessoal), mas também um risco de, em uma emboscada policial tornar-se a moeda de troca, o refém ou o obstáculo a ser transposto na fuga.

Por óbvio, este artigo não tem o objetivo de gerar paranoias ou neuroses, nem suscitar preconceitos, afinal, como a própria história demonstra, bandidos cruéis não tem um padrão de raça, cor, etnia, religião, gênero, idade ou preferência sexual.


Porém, ao surgir um novo vizinho, uma nova pessoa na rua, no prédio ou aparecendo um ?novato? no trabalho, seja cortês e cauteloso, ao mesmo tempo em que se aproxima, mantenha um nível de segurança, afinal, confiança não se cria do dia para a noite, mas somente após um bom período de convivência. Desse modo, se prestar atenção no comportamento de cada pessoa, é possível ir discernindo aos poucos as ameaças potenciais e deixando que o tempo, curto ou longo, revele quem é quem.


4        CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este artigo destacou casos reais de criminosos que fugiram da lei e se esconderam por anos da polícia. O caso Cupertino, recente, destaca a inteligência, sagacidade e habilidades desses criminosos. Dessa forma, uma mente alerta (Caveira) evitará situações de proximidade com criminosos potenciais.


Além disso, o conhecimento e percepção em relação a um desconhecido que se aproxime e que manifeste comportamentos estranhos como os elencados aqui, auxiliam na sua identificação e o quanto antes na sua prisão.

Tais criminosos utilizam de toda a inteligência e sagacidade para se esconder. Contam com recursos, por vezes, e até com ajudas externas de apoiadores do crime. Estar na rota de tais bandidos não é somente perigoso, mas também uma forma de encontrar problemas com a lei, sendo ludibriados por uma conversa convincente ou sedutora, de um ser sem empatia e aproveitador.


?A defesa pessoal, como matéria e o Krav Maga como estilo de vida, não tem só o desejo de preparar o corpo e a mente para o enfrentamento de situações de risco. Deseja também reforçar a inteligência e sagacidade na precaução, no agir preventivamente, no confiar desconfiando, na capacidade e discernimento de identificar aquilo que pessoas ?comuns? inconscientemente ignoram e que pode fazer toda diferença em uma situação limite. Não é preciso ser um investigar ou policial para reconhecer um criminoso ou bandido em potencial ou em fuga, basta ter uma mentalidade e uma percepção ?Caveira?. Shalom!


5        REFERÊNCIAS



G1.COM. Operação prende bandidos brasileiros que passaram anos escondidos fora do país. 17.Mai.2020. Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2020/05/17/operacao-prende-bandidos-brasileiros-que-passaram-anos-escondidos-fora-do-pais.ghtml. Acesso em 20.Mai.2022.


BBC NEWS. Como americano que passou mais tempo na lista de mais procurados do FBI conseguiu fugir da Justiça por quase 37 anos. 18.Jul.2017. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/como-assassino-fugitivo-conseguiu-ficar-25-anos-na-lista-de-mais-procurados-do-fbi.ghtml. Acesso em 20.Mai. 2022.


CORREIO DO POVO. Caso Cupertino: relembre a investigação do crime até a prisão do assassino. 16.Mai.2022. Disponível em: https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/pol%C3%ADcia/caso-cupertino-relembre-a-investiga%C3%A7%C3%A3o-do-crime-at%C3%A9-a-pris%C3%A3o-do-assassino-1.823231. Acesso em 19.Mai.2022.


UOL NOTÍCIAS. Traficante que fugiu da polícia por 30 anos usava técnicas para se esconder. 22.Mar.2022. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/03/22/luiz-carlos-da-rocha-cabeca-branca-narcotrafico.htm. Acesso em 21.Mai.2022.


MOURA, Rayane. Mafioso italiano foragido há 20 anos é preso após aparecer no Google Street View. 06. Jan.2022. Disponível em: https://gizmodo.uol.com.br/mafioso-italiano-foragido-ha-20-anos-e-preso-apos-aparecer-no-google-street-view/. Acesso em 19. Mai.2022.


SOUZA, Percival de. Cupertino, o matador fugitivo. 19.Mai.2022. Disponível em: https://noticias.r7.com/prisma/arquivo-vivo/cupertino-o-matador-fugitivo-19052022. Acesso em 20.Mai.2022.


AGENCIA ESTADO. Cupertino passou por mais de 100 endereços em três países antes de ser preso. 18.Mai.2022. Disponível em: https://gmconline.com.br/noticias/policial/cupertino-passou-por-mais-de-100-enderecos-em-tres-paises-antes-de-ser-preso/. Acesso em 21.Mai.2022.