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ANJOS DO MAL

Psicopatas Mirins e o conceito de responsabilidade humana.


Wesley Gimenez



RESUMO


Este artigo discute a possibilidade da existência de ?psicopatas mirins?. Aborda, não só a violência infantil como também a necessidade de autoproteção das crianças. O mundo tem se tornado um ambiente hostil e por mais que não desejemos observar tal realidade, fatos aterrorizantes acendem novamente uma luz indicadora de que precisamos cada vez mais de prevenção, cuidados e treinamento de sobrevivência, em pleno século XXI.


Família, amor, afeto, cuidados, são itens essenciais à formação da criança, contudo, é preciso perceber que mesmo cercados de amor, pode haver uma maldade intrínseca. Ao pensar como um ?Caveira?, cada um de nós deve perceber o perigo, advindo de todas as fontes, lugares, e capaz de ter origem em qualquer tamanho ou idade.


O alerta deste artigo alcança adultos, mas também tem o desejo de estimular pais a abrir os olhos dos seus filhos aos perigos existentes no mundo, advindos de todos os lugares e pessoas possíveis.


Palavras-chave: Crianças. Adolescentes. Criminalidade. Psicopatia. Violência.

 


1        INTRODUÇÃO

 

Durante o mês de março, duas notícias de grande repercussão, envolvendo crianças e adolescentes mexeu com a internet. Na primeira, dois irmãos, de 9 e 7 anos, sobrevivem à 26 dias perdidos no meio da mata amazônica. A emocionante cena em que são resgatados, desnutridos e magérrimos causou grande comoção, principalmente pelo altruísmo do irmão mais velho, que animava o mais novo, chegando a carregá-lo nas costas para aliviar-lhe as dores nos pés.


O instinto de luta pela sobrevivência dos garotos e a insistência dos pais e amigos em continuar a busca, mesmo depois das equipes de resgate encerrarem, destaca um lado maravilhoso do amor, resiliência e capacidade humana para a luta. Coisa que é ressaltada em diversos artigos por aqui.


Do outro lado, uma notícia inquietou o coração das pessoas. Praticamente na mesma semana em que o coração se enternecia pela notícia das crianças na mata, o espanto de um garoto de 13 anos assassinar mãe, irmão de sete anos e atirar no peito do pai, levando-o à paraplegia, causou estardalhaço e rediscussão de até onde se pode creditar responsabilidade a uma criança ou adolescente.


Sob estes aspectos se pensa em como se poderia proteger nossas crianças e, por que não, os próprios adultos, da ação e influência de psicopatas mirins. Vivemos uma época em que adultos fracos emocionalmente são controlados até mesmo por seus próprios filhos, portanto, adolescentes dissimulados podem destruir a vida de ?adultos nominalmente esclarecidos?.


Examinando casos históricos e lembrando em como o cinema explorou a possibilidade de ?anjos maus?, ou crianças que praticam crimes e são cruéis, este artigo busca esclarecer o perigo, existente ou não, da relação com crianças potencialmente cruéis e os meios de proteção eficazes.


2        Psicopatia infantil, é possível?


De início, é preciso esclarecer se é possível uma criança ser diagnosticada como psicopata ainda na infância. Segundo a psiquiatra Hilda Morana, especialista da USP, o cérebro está em formação até os 17 anos, onde ocorre o que o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade chama de ?Poda sináptica?. Dessa forma, só se pode diagnosticar um psicopata após os 18 anos. No entanto, é possível perceber sinais na infância, como crueldade excessiva e transtornos de conduta.


Dr. Ênio, no entanto, informa que ?cerca de 5% a 10% crianças têm transtorno de conduta, mas apenas uma pequena porcentagem irá evoluir para psicopatia?. Dessa forma, ao lidar com crianças cruéis, nem sempre se é possível classificá-las como ?psicopatas mirins?. O que especialistas sugerem é que muitas crianças apresentam ?transtorno de conduta? como: violência, crueldade com animais, mentiras, fixação por adrenalina e situações perigosas.


As crianças que apresentam indícios de psicopatia são sedutoras e amam intrigas e mentiras. São capazes de convencer e enganar e não possuem empatia alguma, sempre buscando o interesse próprio. Lembro de um amigo comentar comigo que, no dia em que perguntou ao filho de 7 ou 8 anos o que ele sentiria se o pai morresse, o menino simplesmente declarou: ?Depende, se a mãe se casasse com um cara que me desse tudo que eu quero eu não sentiria falta alguma?.


Não é possível definir a psicopatia na infância, porém, alguns transtornos, como os de conduta, podem ser suficientes para preocupar-se com o modo como nossas crianças se expõem a influências nefastas e perigosas. Desde amigos ?ainda não diagnosticados? como psicopatas, até abusadores, Bullers (crianças que praticam Bullying) e criminosos mirins em potencial.


3        Anjos maus: assassinos infantis e a natureza cruel da humanidade.


A história possui inúmeros casos que alertam pais e cuidadores, não só no cuidado com as suas crianças, orientando-as, ensinando ou provendo ensino de defesa pessoal, e alertando sobre a crueldade do mundo, como também exemplificam como crianças e adolescentes podem ser tão cruéis quanto os adultos temidos no mundo do crime.


O caso de duas crianças de 10 anos, Jon Venables e Robert Thompson que, em 1993 é um caso emblemático. Os dois aproveitaram-se do fato de a mãe do pequeno James Bulger, de 2 anos, deixá-lo em frente a um açougue por alguns minutos, para chamar a atenção do menino e levá-lo a uma caminhada por um canal, onde o feriram física e sexualmente, deixando-o sobre trilhos e cobrindo-o com pedras até ser atingido por um trem.  É preciso ter estômago forte para ler alguns casos.


Outros casos que aparecem em várias listas é o de Mary Bell e Graham Young. A primeira é uma inglesa dos anos 60 que, com apenas 10 anos de idade estrangulou duas crianças de 4 e 3 anos com detalhes tão sádicos que seria horrível descrever. Ela foi posta em liberdade na década de 80 e viveu desde então protegida pela justiça vivendo com pseudônimos.


O segundo, com menos de 14 anos já era um ?mestre em química?, se interessando por venenos e idolatrando assassinos famosos. Foi denunciado por um professor que desconfiou de seu conhecimento em venenos, sugestões de pesquisa a alunos e desenhos macabros. Ele iniciou envenenando familiares e amigos.


Um caso final é de Eric Smith, que, com 13 aos matou Derrick Robbie de 4 anos de forma cruel. Eric foi diagnosticado com Transtorno Explosivo Intermitente, mas teve 9 pedidos de liberdade negados (Obviamente, o transtorno não poderia explicar a crueldade sádica da morte da vítima).  


Todos estes casos têm particularidades que podem ser examinados à luz da defesa pessoal. Há óbvias falhas de segurança que poderiam ser discutidas, mas que trariam a impressão de que os culpados foram outras (pais, responsáveis, transeuntes, professores) e não exatamente quem realizou a conduta criminosa: a criança. Por isso, não cabe examinar isso aqui. Devemos, portanto, pensar:


O que fazer para prevenir tais absurdos que, ainda que não tão frequentes, destroem vidas e famílias e chocam milhares de pessoas.


4        Como fazer para me proteger?


Os detalhes da morte de James Bulger reviram o estômago, mas apontam para inúmeros pontos de alerta na questão segurança. Orientar os filhos a não aceder a sedução de crianças ou adultos é um ponto a ser destacado. Perceber que, se uma agressão é vista durante o dia, deve-se intervir sim, mesmo que seja apenas telefonando à polícia ou registrando o fato no celular.


Não importa se são crianças ?brincando? (James foi agredido por 3 Km e visto por mais de 40 pessoas até ser morto. As pessoas achavam que era apenas irmãos mais velhos judiando do menor).


Estar alerta com a possibilidade de que uma criança ou adolescente seja culpado (por mais difícil que seja pensar assim) é uma prevenção em segurança. Crianças podem ser cruéis, tanto quanto adultos, o único entrave é sua massa física e recursos, que as impedem de satisfazer suas maldades. Isso não quer dizer que ?toda criança é potencialmente má?, mas que, assim como todo ser humano é tendente ao mal, toda a criança é passível de ser influenciada a isso (pelo ambiente ou pela genética, como no caso de alguns transtornos violentos com base genética).


Stacey Lannert matou o próprio pai que, segundo ela, abusava dela desde os oito anos. Daniel Bartham se tornou famoso por planejar cuidadosamente o assassinato dos pais, se inspirando em uma novela. Greg Ousley matou o pai que não queria ouvi-lo falar de seus sentimentos depressivos. O caso do jovem brasileiro Marcelo Pesseghini, de 13 anos, que, teoricamente, teria matado toda a família e se suicidado, destaca os exemplos de como meras crianças podem ser capazes das maiores barbaridades.


A curiosidade e a facilitação ao acesso à armas, venenos, e instrumentos que podem causar dano podem ser potencializadores da violência juvenil. Sou armamentista, e acredito que crianças deveriam ter treinamento de tiro, porém, somente em ambiente controlado e sob supervisão rígida. Dessa forma, saberão a letalidade potencial da arma, terão maior entendimento sobre a responsabilidade do uso e ser supervisionados no acesso a algo tão perigoso.


Outra questão importante e presente em mais de 20 casos lidos para este artigo (e nem todos referenciados aqui), é o de um ambiente tóxico, agressivo, abusivo ou vazio de afeto. Ainda que o ambiente não seja o fator determinante na formação de uma personalidade, é uma fonte de inibição de uma maldade latente, agressividade e pode ser parte essencial da construção de uma vida dentro dos conceitos de ?civilidade? existentes.


Durante meu período como Policial Penal pude ver que, mais do que cor da pele ou status social (como muitos querem destacar como a realidade das prisões), o dado mais comum entre presos, especialmente os violentos, é o fato de não terem pai, ou mãe, ou não terem tido acesso a uma família que os amasse e providenciasse o ambiente saudável necessário a uma criança crescer e se desenvolver, aprender e ser protegida.


Dessa forma, a dura realidade a ser abordada é ?todos nós somos potencialmente maus?, não importa o quanto pensamos ser bonzinhos, religiosos ou da geração ?paz e amor?.


Intrinsicamente estamos vivendo sob uma realidade violenta e temos que fazer com que nossas crianças entendam, desde cedo, que a proteção que provemos a elas também depende da capacidade delas de discernir os perigos à sua volta. Por vezes este perigo pode estar escondido atrás do rosto de outra criança.



5        CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este artigo abordou um sério tema: psicopatia infantil. Apesar de todas as nuances não terem sido debatidas, haja vista o espaço e tempo, pode-se concluir que a maldade está presente no ser humano em qualquer idade.


Pode-se perceber, que ainda que não seja possível diagnosticar muito cedo a psicopatia e transtornos violentos em crianças, é possível perceber o comportamento violento e se prevenir em relação a ele.


Adultos não estão isentos de serem vítimas de crianças e adolescentes, principalmente se confiam demasiadamente em sua massa, força e recursos. Principalmente os adolescentes, fase difícil, podem ser especialmente cruéis, se assim desejarem e possuir recursos para crimes, inclusive a nível de comando. Conheci bandidos que já administravam quadrilhas inteiras aos 15, 16 anos de idade.


Os casos de crianças violentas e crimes na história são exemplos maximizados de coisas pequenas que acontecem todos os dias nas escolas, nas brincadeiras de bairro, e por vezes, longe dos pais.


?Bullying, brincadeiras perigosas, desafios na internet, acesso à Deep Web, depressão infantil, psicopatia e transtornos, são só alguns dos perigos que cercam crianças do século XXI. Assim, ensinar a criança, desde cedo a ter uma mentalidade caveira e a se proteger, mesmo longe dos pais, é algo não mais acessório para os dias atuais, tornou-se parte da necessidade de sobrevivência. Shalom!

6        REFERÊNCIAS



CORREIO. ?Em nenhum momento chorou?, diz delegado sobre adolescente que matou mãe e irmão. Em Alta. 21. Mar. 2022. Disponível em: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/em-nenhum-momento-chorou-diz-delegado-sobre-adolescente-que-matou-mae-e-irmao/. Acesso em : 23.mar.2022.

GALVÃO, Camila. 9 casos assustadores de filhos que mataram os pais. 28.Set. 2021. Disponível em: https://www.megacurioso.com.br/policia/99043-9-casos-assustadores-de-filhos-que-mataram-os-pais.htm. Acesso em 24.Mar.2022.

GEARINI, Victória. Pequenas mentes perversas: 5 assassinatos cometidos por menores de idade. Aventuras na História. 08.Fev.2020. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/vitrine/5-crimes-cometidos-por-menores-de-idade.phtml. Acesso em 22. Mar. 2022.

GIANNINI, Déborah. Crianças não podem ser consideradas psicopatas. 03. Out. 2019. Disponível em: https://noticias.r7.com/saude/criancas-nao-podem-ser-consideradas-psicopatas-entenda-03102019. Acesso em : 23.Mar.2022.

MAESTRO VIRTUALE. 20 Crianças Assassinas e Psicopatas da História. 2022. Disponível em: https://maestrovirtuale.com/20-criancas-assassinas-e-psicopatas-da-historia/. Acesso em 23.Mar.2022.

QUEIROGA, Louise. Adolescente que matou mãe e irmão 'se assustou quando soube que o pai estava vivo', diz delegado. 21. Mar. 2022. Disponível em: https://extra.globo.com/casos-de-policia/adolescente-que-matou-mae-irmao-se-assustou-quando-soube-que-pai-estava-vivo-diz-delegado-25441273.html. Acesso em 22.Mar.2022.

SODRE, Raquel. 7 casos de jovens assassinos que marcaram a história . 16. Jul. 2018. Disponível em: https://super.abril.com.br/coluna/superlistas/7-casos-de-jovens-assassinos-que-marcaram-a-historia/. Acesso em : 24. Mar. 2022.

UOL. Internados, irmãos resgatados após 26 dias na floresta apresentam melhora. 19. Mar. 2022. Disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/03/19/irmaos-que-ficaram-26-dias-perdidos-na-floresta-amazonica-seguem-internados.htm. Acesso em : 22.Mar.2022.