Enxergando defesa em todos os lugares
Wesley Gimenez
Este artigo oferece uma descrição acerca do conceito e uso prático de armas improvisadas. Objetos que podem potencializar ou equalizar uma situação de crise ou combate por sobrevivência.
Dentro do contexto de violência urbana, uma consciência acerca do ambiente e a capacidade de transformar objetos comuns em instrumentos de defesa pessoal pode ser a chave para sobreviver. Dessa forma, mais do que conhecimento intelectual ou imaginação, é preciso treinamento físico e mental para que uma simples chave ou caneta, na mão da pessoa certa, possa ser mais que um recurso para uso primário, e sim uma forma de amplificar a capacidade de defesa.
Para longe dos malabarismos e criatividade de filmes e séries de luta, é preciso encarar o assunto com seriedade, disciplina e consciência de que é preciso mais do que só ter preparo físico ou marcial, é preciso ser ?caveira?.
Palavras-chave: Sobrevivência. Potencializadores. Defesa. Armas. Reação.
É muito comum as pessoas assistirem a filmes de luta no cinema, TV ou internet e acreditarem que tudo ali é possível em um contexto real. Contudo, na hora do combate real, há um processo de bloqueio cerebral que te obriga a acessar aquilo que é mais familiar a cada um de nós. É por isso que é comum ver pessoas grandes e fortes simplesmente ?travarem? diante de situações de perigo e, mesmo sendo maiores e mais fortes, cederem à intimidação de pessoas com a metade do tamanho e peso.
Alguém que é treinado em artes de defesa pessoal tem uma vantagem: encaram todos os ambientes como arena de batalha. Mesmo artistas marciais famosos, como atletas profissionais de MMA são limitados por uma percepção inconsciente de regras e arenas octogonais. Lidam com um agressor por vez e tem limitações na hora de utilizar o terreno a seu favor. É claro que ganham vantagem na luta corpo a corpo, mas basta uma ação fora do ?imaginado? como uma garrafada ou um bastão no meio da luta para desequilibrar toda a estratégia marcial pré-moldada na mente do atleta.
É por isso que, em contexto de sobrevivência, mais vale uma mentalidade de combate que somente um corpo preparado para o embate. E diante de uma necessidade de defesa da vida, é preciso que a mente esteja atenta ao uso de tudo que estiver no ambiente como meio de defesa ou ataque. Contudo, a ilusão dos filmes faz parecer que é fácil utilizar uma ?caneta? para matar alguém, como se fosse instintivo utilizar tais acessórios como meio de defesa.
Um exemplo fácil de se perceber é o celular. Vídeos destacam frequentemente pessoas agarradas ao aparelho mesmo em situação de vida e morte. O cérebro está tão conectado ao aparelho como algo ?essencial? que não consegue se desligar dele nem sequer para salvar a própria vida ou a de alguém que ama. Conseguir raciocinar acerca do que utilizar em caso de uma necessidade é algo que deve ser treinado, tornando-se familiar ao cérebro a fim de que, havendo a crise, seja uma opção viável buscada em seus ?registros cerebrais?.
Diante disso, faz parte do Krav Maga Caveira o que se chama de ?consciência situacional?, além do treinamento de uso dos ?potencializadores? e ?equalizadores? na questão da sobrevivência urbana. Esse tipo de treinamento, teórico e prático auxilia na sobrevivência, abrindo opções, dentro do combate, para o uso racional de elementos do ambiente a favor da sobrevivência, da defesa pessoal. E dentro deste extenso escopo de assuntos, o uso de armas improvisadas tem um lugar especial de discussão.
O dicionário Michaelis traz o significado de ?Equalizar? como: tornar uniforme, igualar, uniformizar. Ainda que o termo seja mais conhecido no campo da eletrônica, na defesa pessoal, o ?equalizar? significa utilizar qualquer meio necessário para tornar as forças em combate iguais.
Um exemplo mais prático pode se dar na questão do alcance. Uma pessoa de 1, 90m contra alguém de 1,70m tem um alcance de chute muito maior. Um meio de equalizar essa força e diminuir a distância com o oponente, de forma que seu alcance e sua força fiquem limitados e, assim, o combate seja favorável a quem for mais veloz, técnico e contundente.
Outro exemplo é o uso de um banco, cabo de vassoura ou bastão, a fim de que o alcance maior seja ?equalizado? pela extensão adquirida com esses objetos. Lembre-se que, em se tratando de sobrevivência, o que se chama de ?combate justo? é aquele em que o bom vai para casa vivo e o mal vai para o hospital, delegacia ou cova, a depender da sua motivação para a agressão injusta.
O site léxico.pt ensina que ?Potencializar? tem a ver com ?Fomentar o progresso, o crescimento ou a eficiência de; agilizar ou estimular?. Em tempos de ?empoderamento? e desenvolvimento de potencial, essa palavra não é tão desconhecida. No entanto, no mundo da defesa pessoal, potencializar é aumentar a contundência e potencial de lesividade.
Um exemplo é o uso de lâminas, armas de choque ou sprays de gás de gengibre. Essas armas não-letais potencializam a defesa. Além disso, o uso de ?soco-inglês?, chaves, bastão retrátil, coturnos de bico de aço, dentre outros, podem ser considerados potencializadores do ataque, o que torna a capacidade de causar lesão ou de neutralizar o agressor muito mais eficiente e em menor espaço de tempo.
Uma vez entendidos os conceitos e exemplos acerca da ideia de potencializadores e equalizadores, é importante destacar o que, exatamente, pode ser utilizado como uma arma em um provável combate, dentro do contexto da violência urbana e da necessidade de sobrevivência.
Começando por acessórios comuns como canetas, chaves de carro, celulares, canecas, bonés, blusas, bolsas e demais acessórios, é possível destacar o uso destes aparentemente inofensivos utensílios como meios de distração antes do ataque. Bonés, bolsas e blusas podem ser jogados diretamente no rosto de um agressor potencial, retirando, por poucos segundos, o foco no combate, oportunizando fuga ou um ataque contundente em região sensível (testículos, garganta ou joelho).
É ilusório imaginar tais exemplo como meio de potencializar ou aparar um golpe, tais como recorrentemente vemos em filmes e vídeos onde uma blusa é utilizada para tentar desarmar alguém com faca. Nunca faça isso. Uma camiseta no punho vai abafar a contundência do soco e não auxiliará na neutralização do agressor.
Em um combate agarrado (o que não é ideal em contexto de rua), uma camiseta pode ser um meio de auxiliar na pegada ou enforcamento, contudo, ainda sim, opções mais eficientes e contundentes devem ter a preferência (pedras, chaves, pedaços de vidro espalhados, objetos duros e pesados).
Além dos acessórios mencionados, há, dentre os equalizadores e potencializadores o que se pode alcançar no ambiente em que se instalou a crise. A consciência situacional permite verificar se o ambiente tem saídas, cantos, pontos de apoio, obstáculos a serem interpostos entre o agressor e a pessoa agredida, ou ainda, movidos para minimizar o cerco de vários agressores, aumentar a distância etc.
Essa consciência do ambiente precisa ser treinada pois a adrenalina e o cortisol aumentarão a sensação de visão tubular, aumentando o foco e diminuindo a capacidade de raciocínio, aumentando as reações instintivas e programadas (efeito Hulk). Assim, um banco, uma garrafa, uma mesa, um balcão de bar, um livro pesado, um prato ou uma jarra podem funcionar como potencializadores de ataque. Unidos ao treinamento marcial adequado, principalmente em relação a múltiplos atacantes, o uso dessas armas improvisadas podem auxiliar na sobrevivência.
A história das artes marciais está cheia desses ?improvisos?. As artes marciais filipinas, a Capoeira Brasileira, o Kung Fu Shaolin, dentre outras artes marciais, por opressão dos conquistadores ou por necessidades diversas tiveram que utilizar quaisquer coisas que possuíam à mão para defender-se, seja da opressão dos detentores do poder, seja de exércitos invasores ou ladrões de terra.
No contexto atual, sair às ruas, a depender de onde se mora, é um risco grande de ter que se defender. Diante de uma situação assim, e em um país em que o maior poder bélico, infelizmente, está nas mãos do crime organizado ou encerrado em quartéis para uma guerra improvável, é preciso utilizar quaisquer meios razoáveis para evitar o mal maior.
Ao invés de ?balançar as chaves?, acostume-se a colocá-las entre os nós dos dedos. Ao invés de colocar a caneta em um estojo, tenha sempre uma forte e pontiaguda caneta no bolso ou em local de fácil alcance. Se, por algum motivo, precisa de bengalas ou qualquer bastão de apoio, ou guarda-chuva, tenha-o com capacidade de operação, não só para o fim primário a que se destina, mas também a um uso ?improvisado?, em caso de necessidade.
E por fim, em se tratando de armas improvisadas, elas não devem atingir partes em que a contundência e resultados são mínimos. Nada de buscar pernas, braços, peito ou abdômen. Armas improvisadas devem mirar regiões sensíveis, sempre que possível. Afinal, elas servirão de meio de escape e sobrevivência, não como exibição de capacidade de combate. Se a melhor opção for o improviso para alcançar uma janela de oportunidade para fuga, utilize-a. O resultado esperado é o mais importante: chegar à casa vivo!
Este artigo tratou do conceito de potencializadores, equalizadores e armas improvisadas. Ainda que o espaço não permita pormenorizar o uso de cada uma das armas mencionadas, nem mesmo oferecer mais exemplos e situações fáticas, é possível perceber a necessidade de treinamento mental e físico para o uso de tais armas.
Assumir a responsabilidade de sua própria defesa é também preparar-se para quaisquer cenários, inclusive, alguma situação em que não se tem outra opção senão lutar da forma mais eficiente possível, seja pelo ambiente ou pela multiplicidade de agressores.
Diante disso, ser consciente de onde se está e quais recursos à sua volta podem auxiliar nesse escape ou defesa, é importantíssimo para que o resultado, a segurança, seja alcançado.
?Acostumar-se a entender a versatilidade de cada objeto simples para a improvisação no tocante à defesa é um exercício diário e mental que auxilia em melhores níveis de atenção e habilidade de reação diante de uma crise de segurança. Na mão de um caveira, qualquer coisa vira arma. Shalom!
CRUZ, Alexandre; ABRAHÃO, José R. R; NAKAYAMA, Ricardo. Armas improvisadas. Disponível em: https://cdn.preterhuman.net/texts/survival/Armas%20Improvisadas%20Parte%20I%20e%20II.pdf. Acesso em 23.Ago.2022.
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