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BACON E OVOS AO ESTILO CAVEIRA:

Envolvimento e comprometimento com a vida

 

Wesley Gimenez.

 

 

RESUMO.

 

Este artigo discute a diferença entre envolvimento e comprometimento. Nesse passo, usa a analogia do café da manhã típico do americano: Bacon e ovos. O objetivo é destacar a importância do comprometimento e a necessidade da autorresponsabilidade a fim de alcançar o sucesso, mas principalmente, para formar-se como um ?caveira? dentro e fora do tatame.


Conclui-se que o comprometimento traz um poder secreto, o de decidir, e que ao mesmo tempo que gera medos e incertezas influi diretamente numa mudança de atitudes e mentalidade. É a construção de um novo estilo de vida.

 

Palavras-chave: comprometimento. Compromisso. Envolvimento. Responsabilidade.

 

 

 

1        INTRODUÇÃO

 

Quando destacamos, em diversos momentos, que a modernidade se tornou líquida, ou seja, fluída, relativa, sem apego e com pouca estabilidade. Não existe mais ?verdade? e sim ?verdades?, portanto, a depender de que olha, o que se diz sobre algo é apenas um ?modo de olhar?.


Um dos problemas com essa instabilidade nas relações é que ela se estende para tudo na sociedade. Pessoas deixam de se comprometer, de se envolver definitivamente com algo, afinal, pode ser que não dure tanto, não devemos ?nos apegar?. Os efeitos colaterais desse relativismo se veem em um grande aumento de suicídios e de estados depressivos, de falta de segurança e de mentalidades destruídas, mesmo em meio a um progresso tecnológico e social ascendente.


O filósofo Filipe Pondé, com sua sutileza característica fala uma grande verdade: ?O homem contemporâneo é, talvez, o mais covarde que já caminhou sobre a Terra, sobre a qual deixará sua marca de incompetência em lidar com a morte, a dor e o fracasso?.[1]


E essa verdade se sustenta de diversas formas. As pessoas não querem mais se comprometer. Tudo que é feito pode ser rapidamente desfeito. O casamento não deve ser construído, deve ser uma ?aposta?, afinal, ?se der errado, a gente separa?. A academia não precisa ser um estilo de vida, pois, o que importa é que tenha espelhos grandes para as fotos no Instagram. Tudo fácil e rápido. Se doer ou for difícil, é preferível que a gente não se envolva.


[1] PONDE, 2014, p.16

 

2        MAS, O QUE QUER DIZER ?ESTAR ENVOLVIDO??

 

No final do século XX, precisamente em 1999, Antony Giddens[2] publicava ?Mundo em descontrole?, que olhava para a globalização como uma forma de acabar com o mundo mais rápido. Afinal, havia os riscos que as pessoas não queriam correr e havia as pessoas que simplesmente não reconheciam os riscos. A começar da relação entre homem e natureza, mas também em relação ao envolvimento entre as causas comuns a todos os homens.


Quando Giddens fala sobre risco, ele o trata como uma ?dinâmica mobilizadora?, ou seja, algo que ao invés de paralisar, por vezes, impulsiona alguém a agir e tomar a responsabilidade para si, do sucesso e do fracasso, em uma posição proporcional de risco, que, obviamente, deve ser calculado.


Nesse passo, estar envolvido com algo é calcular os riscos e apostar com cuidado. O título deste artigo fala do café da manhã típico do norte-americano: Bacon e ovos. A galinha se envolve com o projeto final: doa os ovos de forma a calcular os riscos do americano preferir ?coxas de galinha?, e assim, escapa da faca (por enquanto). Ela se envolve com o projeto, mas, afinal, é o risco menor.


Quando ensino Krav Maga às pessoas, encontro pessoas que se envolvem, querendo aprender, pagam a mensalidade em dia e apreciam minhas publicações. Fazem parte da ?família caveira?, mas, se estiverem diante de uma situação de grande risco, colocar em prática o que aprenderam será uma decisão mental de cálculo de riscos.


Não estou dizendo que não se deve calcular o risco, muito pelo contrário, porém, é certo que essa ponderação o fará perder a oportunidade, ou permitir avanços na escalada de risco. Esse é o ?praticante de Krav Maga?. Ele sabe se defender muito bem. Por vezes, até alça faixas superiores e mantém uma vida calma. Mas não se compromete em verdadeiramente seguir uma filosofia de autodefesa.


Basta ter um seguro, ou seja, praticar algo que prepare meu corpo para uma necessidade de fuga ou luta. Eu vou doar meu tempo e dinheiro. A mente e o coração é correr riscos demais.


A questão da diferenciação entre estar envolvido e comprometido retoma a analogia do porco e da galinha pois só se alcança a excelência em algo, e nisto, também incluo o Krav Maga, quando uma parte de você é permanentemente tocada por aqui com o qual você está comprometido. O porco não participa do projeto com seu envolvimento, ele se doa, ele se compromete.


[1] GIDDENS, 2007.

 

3        A RAZÃO DO COMPROMETIMENTO.

 

O comprometimento vai fazer você acordar mais cedo e dormir mais tarde. O comprometimento te ajudará a fazer o que você não gosta até que possa só fazer aquilo que quer. É o fato de se comprometer com a filosofia e princípios do Krav Maga Caveira que todos os dias ouço histórias de instrutores e alunos que evitam assaltos, salvam pessoas, se controlam em situações-limite, sabem agir com a força e no momento certo na hora de utilizar o que aprenderam.


Rob Roy e Chris Lawson, treinadores SEALs demonstram o quanto o comprometimento é importante na formação de uma equipe de elite. ?A excelência dos SEALs não é um ato, é um hábito!?. A mesma coisa pode ser dita de um caveira. Não é apenas o seu corpo que está comprometido com a autodefesa, mas a própria mente do praticante é modificada. Uma nova mentalidade se instala. Os treinadores dos SEALs mostram que o sucesso está no comprometimento em fazer.


o verdadeiro sucesso não está em falar, mas em fazer, quaisquer que sejam as circunstâncias. Com frio, molhado, cansado, irritado ou machucado, não importa. Vamos em frente e concluímos a missão. Nós vamos morrer ? ou morreremos tentando ? antes de desistir de uma missão. Resumindo: perseveramos. Isso porque sabemos que não há um elevador para o sucesso. Você deve subir pelas escadas.[3]

 

Essa é uma parte importante do comprometimento: Ele te obriga a agir. A principal diferença com o envolvimento é que há sempre uma barreira a transpor ou uma limitação. Há sempre um jogar de culpas sobre outros e uma dificuldade de assumir a responsabilidade, ônus e bônus por suas escolhas. É a síndrome do ?Não fui eu?.


[1] ROY e LAWSON, 2016, p.165



4        ACABANDO COM A SÍNDROME DO ?NÃO FUI EU!?


A maioria das pessoas tem dificuldade de assumir suas responsabilidades. É mais fácil acreditar que seus antepassados, a história do país, a cultura, o governo ou qualquer força espiritual sejam responsáveis por seu sofrimento ou adversidades. Na verdade, a humanidade já começou culpando os outros por suas falhas.


Na Bíblia, a ?história dos começos?, ou seja, o ?Gênesis? conta como Adão e Eva, o primeiro casal, foi enganado por uma serpente astuta (na história, é o diabo). Ao ser confrontado com suas falhas, Adão não assume seu pecado, mas culta a todos, menos ele. A frase é característica da síndrome do ?Não fui eu?: ?A mulher, que tu (Deus) me deste, me deu do fruto e eu comi?. (Gênesis 3:12).


A mulher também não ficou com a culpa: ?A serpente me enganou? (Gênesis 3.13). Enfim, começamos mal. A psicologia tem um nome para isso: Projeção. Ela é um ?mecanismo de defesa psíquico? utilizado para desviar-se daquilo que não se pode ou não se quer enfrentar no momento. É um modo de se livrar da culpa e do conflito.


No momento em que ela se ativa, a gente passa a perceber pensamentos e sensações desagradáveis como se pertencessem a outra pessoa. Em vez de assumirmos como nossos, indicamos ser de outro alguém para aliviar nossa carga emocional[4].


No fim das contas, Adão culpava a Deus e à mulher por suas falhas. A mulher culpou a serpente. E até hoje continuamos assim. Comprometer-se com algo o obrigará a assumir as responsabilidades, culpas e recompensas por suas ações. A boa notícia é que o comprometimento também moldará sua mente a fazer sua personalidade mais forte. Essa conduta impulsionará a ação, o envolvimento só não bastará. É preciso se entregar a algum propósito, ter sentido na vida e nas ações.


Se entendemos os ?porquê? de fazermos o que fazemos, aguentamos qualquer ?como? e pagamos qualquer preço. Não se tem medo de assumir uma posição de protagonismo da própria história e isso invariavelmente conduzirá ao sucesso. Talvez não te leve por quilômetros nessa estrada, mas andará muito mais do que andaria se decidisse viver em eterna projeção da culpa e vitimização.

É preciso acabar com a síndrome do ?não fui eu?.


Desde crianças nos acostumamos a colocar a culpa no irmão ou simplesmente entrar em estado de negação. Ao assumir para si a responsabilidade, também transferimos um poder automaticamente: o de decidir. E nesse poder reside um grande processo de cura para a mente doente e covarde. O poder de decidir encoraja, motiva, deseja fazer parte, mesmo ao custo de suor e lágrimas. Quem decide não se envolve, se compromete.


[1] PSICANÁLISE CLÍNICA, 2020.

           


5        CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 

Este artigo buscou caracterizar, não só as diferenças entre envolvimento e comprometimento, mas demonstrar que envolver-se apenas não basta para elevar a vida a um padrão caveira de sucesso. As escolhas que fazemos e o grau de comprometimento com nossos sonhos e objetivos moldarão nossos resultados.


Assim como a galinha e o porco participam em intensidades diferentes do projeto ?Café da manhã americano?, é preciso que selecionemos o grau de participação e resultados no nosso projeto ?Caveira? de vida. Quando decidimos pertencer a um estilo de vida que não delega a outros ou ao destino a sua própria proteção, nos comprometemos com hábitos saudáveis, com uma rotina segura, com equipamentos de proteção, com uma filosofia de vida e uma nova mentalidade.

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Aprenda a entender o valor do comprometimento e da autorresponsabilidade. Lidere a si mesmo, se envolva, mas principalmente se comprometa. Isso vai mudar você, fazer com que evolua e enfim, gerar uma nova forma de encarar as adversidades. Tudo isso faz parte de um processo maior, o de se tornar ?Caveira!?.

Shalom!

 


 

REFERÊNCIAS

 

BIBLIA. Gênesis. Tradução de João Ferreira de Almeida. Versão digital, 2021.


ROY, Bob; LAWSON, Chris. A arte da guerra segundo os SEALS da Marinha norte-americana. São Paulo: Cultrix, 2016.

GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Record, 2007.

PONDE, Luiz Filipe de Cerqueira e Silva, A era do ressentimento. São Paulo: Leya, 2014.

PSICANALISECLINICA.COM. Projeção. 14.Set.2020. Disponível em : < https://www.psicanaliseclinica.com/projecao/> Acesso em 26.Nov.2020.


[1] PONDE, 2014, p.16

[2] GIDDENS, 2007.

[3] ROY e LAWSON, 2016, p.165

[4] PSICANÁLISE CLÍNICA, 2020.