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CICLO OODA

O que você precisa saber e como pode te ajudar.


Wesley Gimenez


RESUMO


Este artigo se trata de uma análise do conceito e aplicação do conhecido Ciclo Boyd ou Ciclo OODA (Observar-Orientar-Decidir e Agir). Além de um método de tomada de decisão estratégica , o Ciclo OODA tem sido utilizado na formulação de estratégia militares, marciais, empresariais, de marketing e até mesmo na área da computação.


Ainda que tudo seja passível de evolução e adaptações, o Ciclo OODA tem se mostrado útil ao longo do tempo e sua aplicação versátil o mantém com plena capacidade de aplicação às mais diversas situações, inclusive no contexto de violência urbana e autodefesa.


Partindo dessa premissa, se introduz o tema na busca de um apontamento futuro a um novo método que , para alguns, pretende substitui-lo, mas que, ao nosso ver, é um complemento que exige exame em um artigo futuro: o Ciclo O3R. Conclui-se neste artigo, que o Ciclo OODA , além de flexível e cheio de potencialidades é uma base de treinamento constante, mental e física, capaz de auxiliar na preparação de verdadeiros sobreviventes, verdadeiros ?caveiras?.

 

Palavras-chave: Estratégia. Capacidade. Habilidade. Técnica. Método. Combate.

 


1        INTRODUÇÃO

 

Tudo na vida é uma questão de estratégia. Desde as táticas militares aos mais avançados métodos de administração, há uma necessidade comum: Estratégias para vencer, com a maior eficiência, no menor tempo possível. Para isso é preciso que existam duas coisas essenciais à estratégia: comando (liderança) e controle (domínio). 


Nesse sentido, o comando e controle, aqui descrito, ultrapassa a simples ideia de comando hierarquizado, ou de manual de procedimentos, mas da avaliação estratégica da situação para uma tomada de decisão por um agente capaz e que possua influência sobre as pessoas ou o ambiente.


Nem sempre as estratégias vencedoras surgem de anos de estudo, mas exigem, em si, uma capacidade ímpar de unir diversos conhecimentos teóricos e uma ampla gama de experiências. Foi assim que o Coronel John Richard Boyd (1927-1997), piloto de combate da Força Aérea dos Estados Unidos da América, unindo seus conhecimentos em mecânica quântica, a cibernética, a teoria do caos, o popperismo e o neodarwinismo à sua experiência como estrategista militar criou o CICLO Boyd, OODA Loop ou, como é mais conhecido: Ciclo OODA.


O método de Boyd para a tomada de decisão estratégica parece querer ser substituída por um novo método: o O3R, que pretende anteceder o OODA a fim de gerar respostas mais rápidas e instintivas, que independem de cálculo mental apurado e que será alvo de nosso próximo artigo. Este artigo trata das definições e aplicação especificamente do chamado Ciclo OODA. Comparando os dois artigos, pode demonstrar que os dois métodos são aplicáveis, mostrando-os como complementares e não necessariamente concorrentes.


Ainda que superficialmente, trataremos da aplicação do Ciclo OODA no nosso dia a dia, entendendo que, em meio à guerra urbana que travamos, e até mesmo em nossas decisões empresariais e pessoais, a aplicação de métodos avançados de tomada de decisão podem favorecer o sucesso, seja isso definido como a sobrevivência diante de uma situação crítica ou a alavancagem da carreira ou da empresa.


2        A definição do Ciclo OODA.


OODA é um acrônimo para: OBSERVAR, ORIENTAR, DECIDIR e AGIR. Foi criado por Boyd ainda na década de 60, com apenas 33 anos de idade. O famoso Coronel americano, um dos maiores estrategistas militares da História, era também um grande piloto. Apelidado de ?Boyd 40? notabilizou-se por sua destreza em combates aéreos.


Seu segredo era a capacidade de decidir mais rápido que seus oponentes. Geralmente decidia o combate em apenas 40 segundos, o que lhe rendeu a alcunha.


Aos 33 aos de idade, Boyd escreve ?Aerial Attack Study?, que definiu as melhores estratégias para o combate de caças, incluindo uma teoria denominada ?Teoria da Maneabilidade da Energia? que contribuiu para o surgimento dos lendários caças F-15 e F-16 da Força Aérea americana. A importância de Boyd, no entanto, é principalmente reconhecida por uma série de Briefings que ele deixou e que pouco se tem na forma escrita (apenas slides e anotações gerais), que definem uma nova teoria para tomada de decisão: O Ciclo OODA.


Observar: é o que chamamos, no Krav Maga Caveira de ?análise do ambiente?. Uma condição mental de relaxamento e atenção misturados. É quando se adentra um local buscando ?escanear? a situação. Essa ?consciência situacional? é um primeiro caminho para decidir se o ambiente é hostil ou receptivo, se há rotas de fuga viáveis ou se o ambiente é uma caixa lacrada, se há pontos vulneráveis ou se o ambiente é seguro em todas as suas áreas.


Essa primeira observação é feita rapidamente e é preciso que o nível de atenção se mantenha nas primeiras cores, branca e amarela, contudo, esse estado de ?relaxamento? não pode ser total. Consciência situacional é o primeiro degrau para a prevenção. Isso pode ser aplicado nas artes militares, marciais, na vida e nos negócios. Leia mais sobre isso no nosso próximo livro (Spoiler dado).


Orientar:  Boyd utiliza o conceito de ?modelos mentais? para demonstrar o que é o segundo passo do Ciclo OODA. Cada situação cria um modelo mental, e acostumamos a tomar decisões baseados nesse modelo. No entanto, e se o modelo é instável? E se a situação muda a cada instante e é preciso adaptar-se constantemente?


Para isso é preciso que dois processos mentais sejam capazes de entrar em ação simultaneamente: A dedução destrutiva e a indução criativa. Boyd utiliza isso em Strategic Game, um jogo que simula a capacidade de adaptação diante do inesperado. Ele elenca várias situações criando modelos mentais: Você em uma pista de Esqui, em uma Lancha, em uma bicicleta em um parque primaveril com um filho que ama tanques com esteiras de borracha, e de repente tudo se altera.


Você está ao lado do motor do barco, não está mais no parque e sim na neve, com o guidão da bicicleta na mão e um conjunto de pisos de borracha (dedução destrutiva). Quando você rapidamente junta todas essas peças, cria algo: um Snowmobile (Indução criativa). E sobrevive na neve. Orientar e utilizar os modelos mentais para construir soluções rápidas e criativas em cenários de incertezas.


Decidir: Uma vez que o modelo mental destaque uma solução possível, é preciso eliminar as hipóteses menos viáveis e entender qual se encaixa mais rapidamente na solução do problema. Assim, o filtro estratégico do ?Orientar? dá base à seleção estratégica do ?decidir?. O cérebro entende a situação, filtra os dados essenciais, cria uma hipótese viável, descarta as inviáveis e toma o próximo passo: Age.


Agir: É a consecução do plano traçado. Quando, a partir da análise do ambiente, e diante de uma instabilidade, o processo de decisão caminha para um modelo mental que elimina hipóteses inviáveis, cria ou seleciona a melhor saída para a situação crítica e age em tempo hábil para sanar o problema ou sair da zona de fogo (hotspot).


3        A aplicação do CICLO OODA às artes Marciais e à Violência Urbana.

 


Como estrategista militar, Boyd criou o seu método para aplicação em combate, principalmente o aéreo. Nem sequer o próprio Boyd imaginaria que o Ciclo OODA seria aplicado , para além da área militar, na segurança pública e privada, nas artes marciais e de autodefesa, na administração, no marketing e até mesmo em cibernética e programação. Há inúmeros artigos e trabalhos acadêmicos ligando o Ciclo OODA à tecnologia da informação e computação na nuvem.


Essa diversificação só demonstra a capacidade do método de ser aplicado a qualquer processo de tomada de decisão, não importa em qual ambiente. Quanto mais rapidamente se passa pelas fases do Ciclo, mais ágil é a tomada de decisão e mais experiência se tem na superação dos obstáculos e dos oponentes.


Imagine-se chegando a uma festa. Aplique o Ciclo OODA na sua tomada de decisão em relação a ficar ou não no ambiente. Analise a situação, horário, quantidade de pessoas, proporção entre homens e mulheres no local, saídas de emergência, hostilidade ou receptividade na postura corporal das pessoas (estão felizes ou há tensão no ar?).


Oriente-se por um modelo mental de segurança, calcule qual é a probabilidade de você se sentir confortável ali. Há locais seguros a se sentar ou há um lugar receptivo o suficiente no ambiente que te caiba? Há amigos ou pessoas que formem um corpo de proteção ou de alerta? O ambiente é conhecido ou desconhecido?


Calculadas as probabilidades, decida ficar ou ir embora para outro local, e faça isso com segurança e firmeza, não demonstrando instabilidade emocional. Como diz Jordan B. Peterson: ?1ª Regra: Costas Eretas e Ombros pra trás?. Retorne ao modelo mental de análise do ambiente assim que se sentar ou se reunir com amigos na pista ou no bar. Mantenha o nível de atenção em uma cor intermediária. Não seja neurótico, seja seguro!


Aplicaremos agora a uma situação ainda mais crítica. Você está sendo assaltado. Estão com a arma apontada para você. Sua arma está nas suas costas. Você é um atirador. Rapidamente as fases do Ciclo de tomada de decisão passam pela sua mente. O ambiente é favorável à reação?


Percebe-se a necessidade dela ou é apenas uma questão de entrega de bens? O bandido está agitado pela pressa ou pelo uso de alguma droga? É possível perceber um comparsa? Há um olheiro? Há possibilidade de você ser morto após a entrega do celular ou da carteira?


A fase seguinte te diz que a probabilidade de uma saída reativa é baixa, portanto, entregar o bem, ainda que você esteja armado e seja treinado é a melhor opção. Em outra ponta, quando a probabilidade está indo em direção a um real risco de vida, é preciso perceber quais as hipóteses viáveis.


Simular um medo exagerado? Distrair a visão do assaltante enquanto saca a arma? Reagir primeiro com contenção da arma do assaltante para depois sacar a própria arma? Eliminadas as hipóteses menos viáveis, é preciso agir: 1) entrega o bem e se mostra cooperativo, não deixando que movimentos bruscos assustem o assaltante, nem que ele perceba que você está armado. 2) Escolhe a atitude mais viável de reação e age com força e impulso, não cessando enquanto a ameaça não for neutralizada, girando novamente o ciclo, de forma a analisar o ambiente novamente para identificação de novas ameaças surgindo.


Percebe-se que o ciclo OODA pode ser implantado no cotidiano, no entanto, se você ficou pensando: ?É muita coisa para pensar em milésimos de segundo?, saiba que para acessar todos esses modelos mentais tão rapidamente e decidir é preciso 3 ações essenciais: treino, treino e treino. Isso mesmo. O treinamento à exaustão levará a um acúmulo de processos mentais e físicos que se ajustarão cada vez mais instintivamente à sua rede de programação neural. 


Tanto a ação de entrega passiva de um bem quanto a reação violenta serão analisadas em frações mínimas de tempo, desde que o treinamento seja realista e que o que se aprende na teoria seja posto em prática simulada (Visualização, modelagem e cenários alternativos).


Quando estamos em equipe (ou família), a presença de um líder natural vai conduzir o giro do ciclo OODA para toda a equipe. Eles responderão ao ?comandante?, que, em determinados casos, pode ser o Pai da Família, a Mãe, o irmão mais velho ou o adulto presente. A capacidade de sobrevivência da equipe está ligada diretamente à habilidade de liderança e velocidade de tomada de decisão do líder. Mas, isso é assunto para outro artigo.


4        CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este artigo discutiu, ainda que superficialmente, a definição e aplicação do Ciclo OODA, ou OODA Load, criado pelo Coronel John Boyd. O conceito, quando aplicado à violência urbana, artes marciais e ao contexto empresarial tem feito grande sucesso e eu uma gama complexa de conhecimentos que perpassam a necessidade de especialização e treinamento.


É por isso que a mera teoria não pode ser a base para o entendimento do Ciclo OODA e sua importância e aplicação. A tentativa de substituí-lo apenas como método de tomada de decisão deve considerar a sua versatilidade e o quanto tem sido aplicado nas mais diversas situações e matérias.


Ainda que novos métodos sejam bem-vindos, sobretudos os mais ágeis e instintivos como o O3R, do qual falaremos na próxima semana, é preciso valorizar a capacidade do Ciclo OODA de auxiliar em uma tomada de decisão segura e que analisa não só o cenário individual, mas que também tem aplicação no contexto de equipes e liderança de grupo.

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Além disso, a prática deve ser o norteador do método. Um caveira treina para a sobrevivência e aplica a teoria de forma a buscar, cada vez mais se tornar uma mente adaptável e capaz de decidir sob o mais absoluto stress. A formação em Krav Maga Caveira não prepara somente para a reação a um ataque injusto, mas capacita para Observar, Orientar , Decidir e Agir (OODA) no tempo certo, da forma certa e com a máxima eficiência possível, gerando um único resultado desejável: Voltar para casa vivo! Shalom!



5        REFERÊNCIAS

VISACRO, Alessandro Cel. Superando o Caos:  A função de combate Comando e Controle além da tecnologia da Informação. Military Review.  Jul-Ago. 2015, p. 70-88. Disponível em : https://www.armyupress.army.mil/Portals/7/military-review/Archives/Portuguese/MilitaryReview_20150831_art011POR.pdf. Acesso em 06.Set.2022.

HARVEY, Andrew. S. Ph.D. Os níveis da Guerra como Níveis de Análise. Military Review. 1 Tri. 2022. Disponível em: https://www.armyupress.army.mil/Journals/Edicao-Brasileira/Arquivos/Primeiro-Trimestre-2022/Harvey/. Acesso em 07. Set. 2022.

ESPERANDIO, Marcelo. É o fim do ciclo OODA. Infoarmas. 08. Set. 2021. Disponível em: https://infoarmas.com.br/e-o-fim-do-ciclo-ooda/. Acesso em 07. Set. 2022.

PEREIRA, Carlos Alberto Borges.  Fim Do Ciclo Ooda E Criação Do O3r: Resolução De Problemas E Tomada De Decisão Em Confrontos Armados. 20. Out. 2021. Disponível em: //efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://velhogeneral.com.br/wp-content/uploads/2021/10/Fim-do-ciclo-OODA-e-a-criacao-do-O3R-v1.pdf. Acesso em 07. Set. 2022.

SANTOS, Virgilio Marques dos. O que é o Ciclo OODA de avaliação e tomada de decisão estratégica.  11. Ago. 2019. Disponível em: https://www.fm2s.com.br/o-que-o-ciclo-ooda/. Acesso em 07. Set. 2022.

LIMA, Marcelo Marques. O Ciclo OODA e a Guerra do Vietnã.  2019. Dissertação (Curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores ? Escola de Guerra Naval.) ? 51 f. Disponível em: //efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://www.marinha.mil.br/egn/sites/www.marinha.mil.br.egn/files/CEMOS082_MONO_CC_MARQUES%20.pdf. Acesso em 06. Set. 2022.