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ENCARE SEUS MEDOS

O primeiro adversário é sempre o que você mais teme.


Wesley Gimenez



RESUMO


Este artigo reflete sobre a importância do enfrentamento do medo para adquirir maturidade e evoluir na formação de um verdadeiro ?caveira?. Encarar o medo não é uma atitude irresponsável de quem se arrisca sem saber o que faz, simplesmente para tentar provar algo a alguém. Encarar o medo não tem nada a ver com ?provas de coragem?.


O medo limitante, o pânico, a ponderação excessiva são travas para uma evolução e o alcance de uma maturidade necessária ao crescimento e sucesso. Encarar o medo faz parte desse caminho em evolução. Desde a preparação marcial, o aperfeiçoamento em defesa pessoal ou na vida, negócios, família e estudos, encarar seus piores medos será uma etapa inevitável.


Isso exigirá lutar contra um inimigo que te conhece bem, que sabe seus pontos fracos e que não vai descansar enquanto não inibir sua força de mudança. Esse inimigo é você mesmo. Por isso, a receita sempre será: levante a cabeça, ombros para trás, olhar firme encarando seu medo.


Palavras-chave: Medo. Maturidade. Evolução. Crescimento. Força. Mentalidade.

 


1        INTRODUÇÃO

 

Por diversas vezes respondi a essa pergunta: Como faço para ficar mais forte? E sempre dou a mesma resposta: Encare seus medos. A maior razão pela qual queremos ficar mais fortes é a de que o contrário não seja verdadeiro, ou seja, não queremos nos sentir fracos, indefesos, vulneráveis. Não desejamos ser humilhados, feridos ou correr riscos sem chance de defesa. Por isso países atacam primeiro, ampliam sua força bélica, são capazes das maiores ?baixezas?, a fim de garantirem sua sensação de ?força e segurança?.


Toda receita de força exige o encarar de algum medo. Ninguém sabe o quanto pode carregar até testar sua capacidade de carga. Ninguém sabe até onde pode ir senão quando exigido. Jordan Peterson, em seu famoso ?12 regras para a vida? faz refletir sobre duas coisas importantes logo no início de seu livro: A primeira delas é a necessidade do ?desencanto? com a ideia de que o mundo é um lugar belo e perfeito e que todos os seres humanos são bondosos e gentis, basta dizer: ?gentileza gera gentileza?.


Pessoas superprotegidas tendem a entrar em histeria ao se deparar com a ?realidade? tanto da maldade existente à sua volta, quanto diante de sua própria maldade. Como diz Peterson: ?Quando as pessoas ingênuas descobrem a capacidade de raiva dentro de si, ficam chocadas, às vezes severamente?. O medo que surge da ameaça externa também assola a mente de alguém que não percebe que também é alguém que pode (e às vezes, deve) inspirar medo e perigo.


Contudo, ninguém consegue ?parecer? forte e ter condições de realmente impor sua presença (quando necessário) sem que antes aprenda a já famosa recomendação de Jordan Peterson para ser e parecer mais forte: ?Levante a cabeça, mantenha costas eretas e ombros para trás?. Ou como eu digo: encare seus medos.


Um documento antigo e sagrado para os Hindus, o Bragavad Gita, escrito no Século I d.C declara que o primeiro grande inimigo a ser enfrentado se chama ?eu?. Sem dominar-se, encarar o medo e avançar, não é possível fazer o que Robert Greene sugere a quem quer superar seus obstáculos e se encher de força e motivação: ?Declarar Guerra a seus inimigos? (no sentido figurado, mas também literal da sentença).


Fazendo um paralelo com a indicação de Greene, encontre seu maior medo, encare-o, levante a cabeça, ombros para trás, e enfrente-o como quem declara guerra a um inimigo. Isso fará com que você o supere. E isso serve para os medos reais, aqueles exercidos pela violência, insegurança e falta de proteção do estado, mas também vale para os medos imaginários, incutidos pela mentalidade fraca, pelo excesso de octpamina e falta de serotonina, que te faz perder, ou pior que isso, te faz perder antes mesmo de tentar.


2        A neuroquímica do Medo.


Nosso cérebro é um campo vasto para investigações. Isso porque sequer começamos a arranhar a superfície acerca de tudo que este complexo órgão humano é capaz de realizar. Há um mecanismo bastante conhecido na neurociência: fuga ou luta. Basicamente é a reação do cérebro diante do medo, da sensação de perigo. Uma alta dose de medo pode gerar uma grande descarga de adrenalina, e se alguém possuir alguma obstrução arterial, literalmente se pode ?morrer de medo?.


Segundo o Dr. Martin Samuels, neurologista americano e diretor do programa de Neurociência Interdisciplinar do Bringham and Womens?s Hospital, a alta carga de adrenalina pode gerar uma fibrilação ventricular que é quando o coração apenas estremece e não bate corretamente. Além disso, há um excesso de cálcio levado ao coração, contraindo-o fortemente, sendo possível que ele demore a relaxar e leve a pessoa à inconsciência.


Essa condição do coração não bombeando corretamente também é apontada sob o nome de cardiomiopatia de Takotsubo e de acordo com o especialista é outra forma de ?morrer de medo?. Apesar de raros, esses episódios de morte em decorrência do medo destacam o quanto o medo em excesso é limitante e pode ser letal.


Uma parte importante da capacidade de dominar o medo e vencê-lo é a percepção do mal que o excesso de medo faz, mas também o claro entendimento do bem resultante do enfrentamento dos nossos maiores medos: Maturidade. Quando crianças sofremos de medo do escuro, monstros imaginários e fantasias diversas. Na adolescência enfrentamos o medo da rejeição, do bullying, das frustrações diversas. A fase adulta também carrega seus medos, mas é o ponto em que não se pode encolher em um canto e chorar, esperando que alguém venha nos pegar pela mão.


Ser maduro é algo para além da idade. Assim como o medo tem sua neuroquímica própria, a maturidade modifica a forma como nosso cérebro enxerga a realidade. É a assunção de responsabilidade, o desejo ferrenho de vencer, de derrotar quaisquer ?inimigos? e de superar-se acima de tudo, construindo em si mesmo uma versão melhorada de si mesmo é que conduz o gatinho medroso a se tornar o Rei das Selvas.


3        O caminho da força vai exigir frustrações e resiliência.


E ao citar o Leão, pode-se fazer menção da famosa história de Simba, que, depois de um evento traumático, seguido de perseguições que o conduziram a uma vida de medo e fuga, para, enfim reconhecer-se, precisou enfrentar seus medos de frente. O escritor Benjamin Hardy, no seu valioso livro ?Foça de vontade não funciona? comenta acerca do amadurecimento de Simba dessa forma:


Para assumir um papel mais poderoso, ele é forçado a encarar seu passado e lidar com as emoções que passou anos suprimindo. Ele não pode se desenvolver sem expurgar e se livrar de toda a bagagem emocional que o mantém em seu papel e ambiente inferiores. Se não puder enfrentar o desafio, as consequências serão terríveis para o lugar onde vive e seus entes queridos.


E o desafio de Simba também é o nosso desafio. Amadurecer vai exigir o enfrentamento de frustrações e sensações de medo e impotência. A necessidade de ir além, acima da versão atual, para um Upgrade em direção a ?um papel mais poderoso? vai arrancar pedaços de sua carne, retirar gritos de indignação, suspiros de frustração e muita vontade de desistir. No entanto, todo processo de crescimento dói. A dor é inevitável, o medo é opcional. Novamente citando Hardy eu te pergunto:


Você está disposto a encarar seus medos e demônios internos de frente. Está disposto a desistir de sua vida abaixo das expectativas, da inatividade, do desperdício de suas capacidades, seus maus hábitos e vícios, o prazer instantâneo e as distrações. Está disposto a assumir a responsabilidade exigida de você. Está disposto a mudar seu ambiente para seu próprio aperfeiçoamento e daqueles que você ama. É hora de ser a pessoa que você sabe que pode ser. É hora de deixar a vida pequena para trás.


O primeiro obstáculo a ser vencido é o espelho. A pessoa refletida nele foi criado em um ambiente que dizia que era obrigação do Estado a defender. Que a forma mais pacífica de se viver era sempre curvar a cabeça e ser gentil. Que palavras doces seriam capazes de impedir qualquer maldade. Que, diante do reprovável comportamento humano bastava uma ?lição de moral?. Essa pessoa tem que amadurecer. Encarar que há pessoas más no mundo e que a tônica predominante não é a da ?gentileza gera gentileza?.


O processo de superação do medo é uma decorrência da maturidade. E a maturidade vai exigir o enfrentamento do medo. Tudo isso é permeado de contínuas mudanças que geram crescimento. Não ouse pensar que você crescerá rapidamente e que ao acabar de ler este artigo já será capaz de vencer a tudo e a todos. Uma grande caminhada começa com um primeiro passo. Todo faixa preta precisou aprender o que é um soco.


E nessas micro mudanças, no crescimento lento e sustentável que reside o segredo para vencer os medos e se superar. Como diz o famoso guru de liderança John C. Maxwell em seu livro ? As 15 leis do Crescimento?: ?É possível mudar sem crescer, mas é impossível crescer sem mudar. Um dos segredos para fazer as mudanças certas que nos permitam crescer é saber a diferença entre um problema ou desafio, que eu posso mudar, e um fato da vida que não posso mudar?.


Dentro daquilo que é possível realizar. No ritmo em que se consegue mudar, buscando objetivos graduais e factíveis, metas, é que o medo é paulatinamente vencido. Restará o necessário para acender as luzes de alerta, mas jamais a mente e o corpo serão capturados pela sensação de pânico e surpresa. Encare seus medos, transforme-se, amadureça. É assim que um caveira aprende, e é assim que você aprende a ser Caveira.


4        CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este artigo considerou a necessidade do enfrentamento do medo para a construção de uma evolução e o alcance da maturidade de quem quer ser um verdadeiro ?caveira?, na vida e no tatame. Ainda que seja uma parte natural da natureza humana, o medo em excesso pode não só limitar e engessar o aprendizado como modificar a estrutura pela qual se enxerga o presente.


A evolução constante, tanto dos perigos quanto das oportunidades que a vida traz exige pouco tempo para considerações de pânico e a imobilidade característica dos medrosos. Ser medroso não é um defeito, encerrar-se em seu medo sim, é um defeito grave, normalmente nomeado de covardia.


O caminho da superação humana exige enfrentamento de frustrações, dores e no processo um amadurecimento que vem com o tempo. Não se pode acreditar que ?pulando degraus? se chegue ao topo. O podium é para quem acompanhou o processo e foi mais rápido e forte em superar suas limitações e, principalmente, seus medos.


?Assim como em fases de jogos de Video-game, cada etapa da vida exige um enfrentamento final com um grande inimigo, o mais forte de todos. Nessa nossa analogia, o ?grande adversário? pode ser visto todos os dias diante dos olhos: no espelho. Shalom!


5        REFERÊNCIAS



GREENE, Robert. 33 estratégias de guerra: como gerir o seu dia dia de forma vitoriosa. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

HARDY, Benjamin. Força de vontade não funciona. Rio de Janeiro: LeYa, 2018.

MAXWELL, John. C. As 15 leis do Crescimento. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

PETERSON, Jordan. 12 regras para a vida: um antídoto para o caos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2018.

VIEIRA, Nathan. É possível Morrer de medo? Literalmente? 03.Nov.2021. Disponível em: https://canaltech.com.br/saude/e-possivel-morrer-de-medo-literalmente-200462/. Acesso em 03.Maio.2022.