Wesley Gimenez
Este artigo discute a felicidade na perspectiva de uma vida de lutas e vitórias, de conquistas e derrotas, de vencer e de ser derrotado.
Apesar de ser um termo bastante debatido na atualidade, a percepção da felicidade como um fim a ser alcançado passa por diversas opiniões e pensamentos, quase nunca chegando a um consenso.
No entanto, todos, indistintamente buscam ser felizes. Como conseguir? Como realizar-se na vida, no amor e profissionalmente? Como filósofos gregos de séculos antes de Cristo, um pensador ateu do século XIX e um filme do Século XX podem nos ajudar a entender a felicidade? Este trabalho responde a estas perguntas a partir do conceito de Eudemonia.
Palavras-chave: Felicidade. Resiliência. Luta. Escolhas. Ética.
O ser humano persegue o que ele chama de ?felicidade? desde que a humanidade começou a se reconhecer no espelho. O instinto de sobrevivência, à medida que fomos ?evoluindo? foi sendo transformado em um desejo pleno de realização, sentido e propósito.
Quando os filósofos gregos dominaram o que chamamos de ?pensamento humano?, a busca pela felicidade passou a ter contornos e reflexões diretas, ao ponto que, as grandes mentes: Sócrates, Platão e Aristóteles pensaram sobre ela.
Segundo os escritores gregos, a felicidade é um fim, um objetivo a ser alcançado. Aristóteles, filósofo grego, nascido em Estagira, na Macedônia, no IV Séc. A.C dedica dois livros ao debate dessa ideia: Ética e Ética a Nicômaco. No conceito aristotélico, a felicidade é a busca do bem, de ações práticas e da sabedoria prática que nos leva a fazer o que é correto e o que realmente nos traz a sensação de realização, excelência, virtude.
Enquanto Platão, mentor de Aristóteles concebia uma versão política da felicidade e ao mesmo tempo pensava na realização como algo metafísico, que viria da libertação do corpo em direção ao ?mundo das ideias?, Aristóteles concebia a felicidade e a realização dentro do cotidiano, das ações do dia a dia, em que nos responsabilizamos por nos tornar mais sábios, melhores e aperfeiçoados na prática da sabedoria, na ação diária do bem e da virtude.
Nietzsche, filósofo polêmico alemão do século XIX entendia felicidade como um momento que se pretende reter indefinidamente. Sua ideia de ?eterno retorno? , pouco tem a ver com espiritualidade e sim com o desejo de eternizar um momento de êxtase e felicidade. É nesse teor que uma frase atribuída ao pensador sempre faz sucesso na internet: ?Demore o tempo que for preciso para decidir o que você quer da vida, e depois de descobrir, não recua ante nenhum pretexto, pois o mundo tentará te dissuadir?.
Ao comparar este pensamento com a nossa vida do século XXI, percebemos que estes sábios entendiam que a felicidade é um momento que direta e indiretamente envolve nossas próprias ações. Que é um bem e uma virtude a ser construída e conquistada. Ou seja, ser feliz exige luta. Exige ter que se levantar pela manhã e decidir ser feliz. Envolve um conjunto de ações que, somadas, conduzem a uma sensação de realização e dever cumprido, e a isso denominamos: felicidade.
O Título desse tópico é o mesmo título de um filme de sucesso de 2006 estrelado por pai e filho, Will Smith e Jaden Smith. A história retrata a saga de Chris Gardner, personagem real, que teve que lutar em busca do objetivo maior de sua vida: proporcionar felicidade e realização ao seu pequeno filho, após o abandono de sua mulher ante à situação financeira caótica em que viviam.
A rica história do livro de Chris Gardner, empresário do ramo financeiro que, abriu sua corretora com um capital de 10 mil dólares e que hoje possui um patrimônio avaliado em 60 milhões de dólares rendeu ao filme uma bilheteria de U$$ 300 milhões e nos deu uma pequena noção do quanto é difícil encontrar felicidade e como Nietsche se aproximou bem da definição de felicidade como um momento a que quer se prender pela eternidade.
No livro, assim como no filme, a luta para ser feliz envolve abnegação (ofertar o pouco que se tem a alguém visando um objetivo maior), ser capaz de passar por privações, aceitar se esforçar mais do que todos à sua volta e competir consigo mesmo todos os dias ao levantar-se da cama. Parece a vida de um lutador para você? Pois é! Por isso que ao assunto está sendo lido em um site que fala de defesa pessoal e sobrevivência urbana. Ser feliz exige que você seja um lutador em primeiro lugar.
Retornando ao filósofos gregos Platão e Aristóteles, estes, enfatizaram um termo para felicidade que tenta defini-la de forma prática , dentro da atividade humana e das suas esperanças e frustrações. Eudaimonia se tornou sinônimo para felicidade mas também para realização. Essa sensação de realização a que denominamos felicidade e que Chris Gardner experimenta ao final de seu filme, pode ser entendida sob o conceito de Eudaimonia.
Um trecho do livro ?The Book of life? traduzido por Cássia Zanon, oferece uma descrição maravilhosa do que é Eudaimonia e sua relação com felicidade e realização.
O que distingue a felicidade da realização é a dor. É perfeitamente possível se sentir realizado e, ao mesmo tempo, sob pressão, sofrendo física ou mentalmente, sobrecarregado e, com bastante frequência, de mau humor. Essa é uma nuance psicológica que a palavra felicidade dificulta captar ? pois é complicado falar sobre se sentir feliz, ainda que infeliz, ou feliz, ainda que sofrendo.
No entanto, tal combinação é perfeitamente acomodada dentro das letras dignas e nobres da Eudaimonia.
Ser capaz de suportar a dor para ser feliz, traçar metas e enfrentar cada problema que te forja a ser resiliente é uma forma de alcançar a felicidade no presente enquanto se projeta o futuro. Vamos comparar o conceito de Eudaimonia às artes marciais.
Quando recebo alunos em suas primeiras aulas vejo pessoas que buscam realizar seu desejo de se defender, de entrar em forma, de ser mais fortes, rápidos e ágeis.
Aos poucos, com a mente focada em ser melhor, o aluno se submete às dores iniciais de uma atividade física intensa. Ainda tem medo de se machucar ou agredir alguém. Até que, a cada degrau que sobe na hierarquia de faixas, percebe-se mais feliz, mais confiante e por incrível que pareça, mais desejoso de sentir dor, de evoluir, de superar-se. Chegam a reclamar se o treino foi ?leve demais?.
Isso porque a vitória na luta, em si, não é importante, mas a realização final, a consequência da preparação, o caminho percorrido, são validados por essa sensação de vitória. E para ter essa sensação eternizada, é preciso que o próximo caminho seja ainda mais difícil, ainda mais exigente, ainda mais doloroso. Um contrassenso que todo lutador entende muito bem.
Desde os filósofos gregos aos brilhantes estudiosos de Harvard, a felicidade tem sido examinada sob diversos parâmetros e perspectivas. Shaw Achor, no livro ?O jeito Harvard de ser feliz? nos atualiza com as mais recentes pesquisas sobre a felicidade na mais famosa universidade do mundo. E sua conclusão é muito parecida com a de Nietsche: Não desistir é o segredo para ser feliz e realizado.
O segredo da felicidade, para Achor está em mudar sua concepção de fracasso. Ser capaz de enxergar na adversidade, na luta, da batalha diária, um impulso para a realização e felicidade. Ser capaz de escolher um modo diferente de olhar para o problema e ao invés de lamento, abraçar a ?oportunidade? em meio à crise. Nas palavras do escritor, há muitos exemplos de pessoas que se realizaram assim:
As pessoas mais bem-sucedidas veem a adversidade não como um obstáculo intransponível, mas como um trampolim para a excelência. Com efeito, é o fracasso que muitas vezes leva a ideias que acabam revolucionando indústrias inteiras, geram lucros recordes e reinventam carreiras.
Todos nós já ouvimos os famosos exemplos: Michael Jordan excluído de sua equipe de basquete no colégio, Walt Disney demitido por um editor de jornal por não ser suficientemente criativo, os Beatles rejeitados pelo executivo de uma gravadora que lhes disse que ?bandas de guitarra não estão com nada?.
Na verdade, muitos dos seus mantras vencedores basicamente descrevem a noção de encontrar oportunidades na adversidade: ?Fracassei seguidamente na minha vida?, Jordan disse certa vez, ?e é por isso que saí vitorioso.? Robert F. Kennedy disse praticamente a mesma coisa, mas em outras palavras: ?Só os que ousam fracassar completamente, podem alcançar a totalidade?.
Se trocarmos ?totalidade? do final da citação por: felicidade ou realização, compreenderemos que o modo como encaramos nossos problemas definem o tamanho do nosso contentamento depois. A vida feliz é a vida de que encara os desafios e comemora as realizações.
Que não se dobra diante dos problemas e que se permite ser grato pelas pequenas vitórias. É o faixa branca que chora ao alcançar a faixa amarela tanto quanto o marrom ao conquistar a tão sonhada faixa preta, pois afinal não é a cor da faixa que define a sua felicidade, mas a recompensa por todo o esforço e luta injetados naquele objetivo, agora alcançado. Caveira!
Este artigo trouxe uma reflexão sobre o conceito de felicidade na perspectiva de um lutador, de um sobrevivente. A vida não é só lutas e dores, também é permeada de realizações e momentos felizes. Precisamos encontrá-los e dar valor à eles, ser capazes de encontrar felicidade nas pequenas coisas que alcançamos.
Copiando a fala de Will Smith, ao interpretar Chris Gardner no filme ?À procura da felicidade?, ao encontrar o que denominamos de ?Eudaimonia? ou sensação de realização plena: ?Este momento da minha vida, este pequeno momento da minha vida , chama-se Felicidade?.
Viva o seu momento, dentro e fora dos tatames. Comemore sem se importar com os outros que não sentem o que você sente, Chore sem ligar para os outros que não carregam o que você carrega e principalmente, Lute sem se importar com os outros, que não enfrentam ?quem? ou o ?o que? você enfrenta todos os dias na luta pela felicidade. Shalom!
ACHOR, Shawn. O Jeito Harvard De Ser Feliz., São Paulo: Saraiva Educação SA, 2017.
ADORO CINEMA. À procura da felicidade. 2 .fev. 2007 . 1h 58min / Biografia , Drama. Direção: Gabriele Muccino. Roteiro Steve Conrad. Elenco: Will Smith , Thandiwe Newton , Jaden Smith. Título original The Pursuit of Happyness. Columbia Pictures/Sony Pictures.
AGUIAR, Brucy Nobre. Eudaimonia em Platão e Aristóteles. Trabalho de Conclusão de Curso ? TCC. Universidade Federal Fluminense - Bacharel em Filosofia. Niterói-RJ, 2017.35 p.
MOREIRA. Daniel Fernandes. Eudaimonia: a vida feliz no pensamento aristotélico.14.Abril.2012. Disponível em: https://pensamentoextemporaneo.com.br/?p=2180. Acesso em 12.mar.2022.
SUNO. Chris Gardner. Biografias. Investidores. 2020. Disponível em : https://www.suno.com.br/tudo-sobre/chris-gardner/. Acesso em : 13.Mar.2022.
THE BOOK OF LIFE. Uma palavra melhor do que felicidade: Eudaimonia. Tradução de Cássia Zanon. Disponível em: https://www.theschooloflife.com/saopaulo/home/blog/uma-palavra-melhor-do-que-felicidade-eudaimonia/. Acesso em 19.Mar.2022.