GUERRA CIVIL: O que fazer se tudo virar um Caos.
Wesley Gimenez
RESUMO
Este artigo destaca uma simulação de guerra civil. Algo hipotético, mas, veladamente enfrentado em diversos lugares, em diversos contextos e com uma multiplicidade de fatores agravantes. A insegurança em ?hotspots? de criminalidade, conflitos diversos e mais recentemente, em disputas políticas, embates ideológicos e vulnerabilidade econômicas, tensões judiciais e choques de cosmovisões, perfazem uma oportunidade para um exame mais apurado, com os óculos da ?segurança? e da ?defesa pessoal?.
Um verdadeiro laboratório para verificarmos qual é o grau de insegurança de nossa localidade e o quanto estamos preparados para enfrentar Caos e dificuldades que colocarão em Xeque nossa capacidade, velocidade e eficiência de reação. A busca sempre será a de uma visão positiva, contudo, a máxima válida para um ?caveira? continua sendo: ?espero o melhor, preparando-se para o pior?.
Palavras-chave: Preparação. Simulação. Realidade. Conflito. Paz. Medo.
INTRODUÇÃO
Durante as eleições de 2022 e nos dias subsequentes a esta, uma nuvem de medo começou a rondar a internet. Dentro desse cenário, duas palavras começaram a ser sussurradas: Guerra Civil. Não só falas intemperadas como também ações de devastação, ?protestos? e vandalizações começaram a intimidar as pessoas e gerar um aumento do temor, além da raiva, contida e extravasada por militantes de diversas ?facções?.
O termo ?facção? aqui não se refere à popular ideia do crime. Esse termo é utilizado nos estudos de guerra civil, observando que, uma guerra civil começa quando, dentro de um país, há facções rivais e polarizações que enfraquecem a democracia, afastando esta mesma nação do ideal democrático e mobilizando uma parte da população contra a outra.
É espantoso ver vídeos e fotos, reportagens e postagens de pessoas depredando propriedades públicas e privadas, desejando que seus concidadãos passem fome ou sofram privações ou violências. Ainda mais, não só a xenofobia é algo avesso ao Brasil, talvez o país mais miscigenado do mundo, como encontrar insultos aviltantes a nordestinos, sulistas, paulistas, mineiros, baianos, pernambucanos, acreanos ou paraenses é de um espanto absurdo.
Assim, as palavras sussurradas viram apreensão real. E uma questão perpassa a mente: O que eu deveria fazer em caso de Guerra civil?
Ainda que o assunto ?Guerra? já tenha sido tratado antes, em artigos anteriores, há particularidades no termo ?guerra civil? que precisam ser pontuadas. Enquanto uma Guerra é a ação de um país contra outro, de uma cultura contra outra, por vezes, com línguas diferentes e formas diferentes de governo, a Guerra civil coloca famílias em trincheiras diferentes. Coloca irmãos em oposição.
Nesse sentido, a cultura que une, despedaça. A língua que torna compreensível, se transforma em ruído e confusão, desentendimentos e descontextualizações. Em nome do ?amor? se pratica o ódio, e em nome da ?verdade? se diz mentiras e ofensas. Contudo, o pior são as ações reais, que machucam, defraudam, atemorizam, destroem, causam prejuízo material e emocional, físico e mental na vida dos cidadãos de uma mesma nação. E para sobreviver é isso, há medidas práticas que devem ser praticadas.
Facções e a balbúrdia: O que fazer se a confusão estiver próxima?
Entendido que a guerra civil inicia pelo estabelecimento de facções dentro do mesmo país, podemos reconhecer o estado das coisas e ver que o atual cenário brasileiro é o de diversas ?facções?. Observa-se que o termo não é ligado ao crime, mas ao sentido de ?divisão?.
Nesse sentido, essas facções estão em choque constante e isso pode gerar ataques físicos. E se estivermos dentro de um cenário em que as facções estão brigando próximo a mim? O que devo fazer?
A primeira coisa é fugir do fluxo de confusão, evitando a situação em que ?a onda leva?, de forma que estar no epicentro do combate pode gerar efeitos colaterais danosos. Visualizar uma rota de fuga o quanto antes é a melhor saída. Em caso de cerco ou de alguém ?confundir? você com a facção oposta, não tente se explicar, apenas mantenha a distância e o avise que, se ultrapassar seu limite definido, você reagirá (esteja pronto para isso e para seguir sua rota de fuga na sequência).
Proteja quem estiver com você mantendo-os juntos. Oriente os menores a segurarem a camisa ou calça dos maiores, de forma que, se houver pressão ou medo, estes não se separem. Vá a um lugar seguro, provisório ou permanente, evite circular em período noturno e em locais ermos. Abasteça-se, para eventualmente ter de passar um tempo recluso em um local seguro por um bom tempo.
Entre em contato com a família e pessoas mais próximas e planejem ações em conjunto, de forma que haja proteção mútua e assim, caso alguém esteja em perigo iminente, seja possível articular alguma ajuda. Não seja seduzido por saques ou a furtos em lojas e supermercados, a não ser que seja um caso de necessidade última, para alimentar e garantir a sobrevivência. Locais onde se juntam salteadores ocorrem crimes diversos, pela confluência de emoções violentas e medo de reações. Oportunistas criminosos se aproveitam do tempo de caos para prática de atos libidinosos ou selvageria.
A atual situação de conflitos no mundo tem levantado a questão de inúmeras guerras civis. Rússia e Ucrânia não enfrentam somente uma guerra entre nações, mas dentro de seus próprios territórios possuem um descontentamento generalizado que conduz a conflitos internos de diversas espécies.
Além disso, segundo pesquisas, quase 40% dos americanos acreditam que seja sim possível uma Guerra civil americana na próxima década. Ainda que esta crença seja maior ou menor a depender da convicção política do entrevistado, é possível perceber que a tensão e conflitos estão presentes também em países desenvolvidos.
A escritora Bárbara Walker, autora do livro ?Como as Guerras civis começam? declara que ?Após a 2ª. Guerra Mundial, a grande maioria das guerras civis do século 20 surgiram de polarizações ideológicas ou questões relacionadas a conflitos entre classes sociais.?.
A mesma autora, no entanto, ressalta que além da polarização ideológica e social, há conflitos oriundos de disputas étnicas e religiosas. Ou seja, também o papel da religião e do preconceito étnico foi preponderante para que conflitos internos surgissem em diversos países pelo mundo.
Em caso de Guerra civil, posso fazer o que quiser? Até matar?
Uma guerra civil é, de acordo com a jornalista Bianca do Vale Mendes, ?um confronto em que a população é o ator participante, diferente de uma guerra entre Estados, que é uma luta entre os seus exércitos nacionais?. Assim, apesar da população estar no centro da disputa, não significa que há um estado de ?anomia?, ou seja, uma ausência completa de normas.
Respondendo a pergunta: Não. Você não pode fazer o que quiser. Como disse um amigo, certa vez, enquanto estava refém de presidiários em uma rebelião: ?Cuidado com o que vai fazer... uma hora a cadeia vira de novo?. O que ele quis dizer ao preso é que aquele estado de anarquia uma hora ou outra voltaria à normalidade e que qualquer atitude teria sua devida responsabilização.
Na linguagem dos presídios, a cadeira ?virar? significa que haveria uma rebelião.
Ela ?virar de novo? significa que voltaria para a mão da lei e os guardas que agora estavam como reféns estariam de novo com as chaves nas mãos. O presidiário que decidisse por espancar um refém deveria saber que, após a normalização, ele seria identificado e sofreria a responsabilização penal por seu crime, além de ser encaminhado à regime mais rígido e sofre punição no ?pote?, a conhecida ?solitária? ou ?Regime de Cela Disciplinar?.
A analogia com uma situação fática de guerra civil se dá pela precaução de que, qualquer ato impensado ou afoito, não só coloca em risco sua vida e segurança, como pode, inclusive ser responsabilizado penalmente após o fim do caos instalado. Ainda que todos estejam agindo como animais irracionais, é preciso ter uma mentalidade solida em relação a cada passo, sabendo exatamente que, se preciso, alguns limites serão transpostos, mas essa não precisa ser a primeira opção para tudo.
Portanto, antes de pensar com medo na possibilidade de uma guerra civil, é preciso viver de modo seguro e antenado aos acontecimentos. Já falamos do perigo da alienação, inclusive no tocante aos fatos e rumores. Devemos, em tempos de redes sociais e teorias conspiratórias, discernir o que é verdade e o que é mentira. Se isso não for tão fácil, o permanecer de olhos abertos e em alto nível de atenção dará conta de preparar uma reação em tempo hábil.
Uma defesa pessoal séria leva em conta todos os cenários possíveis. Inclusive o pior cenário. Todavia, trabalha dia e noite para construir uma mentalidade que se previna dos conflitos, que contorne os enfrentamentos e saiba bater duro e responder com eficiência em caso de esgotamento dos recursos dialéticos. No velho jargão: Seja pacífico e não passivo. Seja educado, mas bata firme se necessário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo discorreu sobre a possibilidade de uma guerra civil. Além do conceito e entendimento da origem de um conflito dessa espécie, é preciso discutir quais passos dar estando no epicentro da balbúrdia, ou mesmo, se tomado de surpresa por uma onde de criminalidade crescente ou ameaças advindas de uma completa anomia instalada.
Contar com a força do Estado é uma ingenuidade. Acreditar que o ser humano não pode ser cruel é uma insanidade. Saber se precaver, se defender e ser capaz de proteger os seus é uma necessidade e não mais um critério de luxo ou de conforto estético.
Preparar-se para uma década de conflitos não é virar um Rambo com um bunker preparado para a terceira guerra mundial.
? Estar preparado é levantar pela manhã já sabendo que os próximos passos, do abrir ao fechar dos olhos na cama serão conduzidos por um protocolo seguro, que evita expor-se a riscos desnecessariamente e que , em caso de necessidade, sabe onde, como e quão forte bater e os próximos movimentos após a tomada dessa decisão. Isso é ser caveira. Shalom!
REFERÊNCIAS
CAPLER, Rodolfo. ?Estamos vivendo uma guerra civil fria? ? entrevista com Francisco Bosco. 29. Out. 2022. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/matheus-leitao/estamos-vivendo-uma-guerra-civil-fria-entrevista-com-francisco-bosco/. Acesso em 31. Out. 2022.
DIAS, Fabiana. Conflito armado caracterizado pela disputa entre grupos da mesma nação. 20. Jul.2020. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/guerra-civil. Acesso em 30. Out.2022.
MENDES, Bianca do Vale. Você sabe o que é uma Guerra Civil? 04.Mai.2020. Disponível em: https://www.politize.com.br/guerra-civil-o-que-e/ Acesso em 31. Out. 2022.
O ANTAGONISTA. YouGov: 40% dos americanos acreditam em ameaça de nova guerra civil nos EUA em 10 anos. 30. Ago. 2022.Disponível em: https://oantagonista.uol.com.br/mundo/40-dos-americanos-acreditam-em-ameaca-de-nova-guerra-civil-nos-eua-em-10-anos/. Acesso em 30. Out. 2022.
SALIBA, Elias Thomé. Barbara Walter conta como as guerras civis começam em novo livro. 29. Out. 2022. Disponível em: https://www.estadao.com.br/alias/barbara-walter-conta-como-as-guerras-civis-comecam-em-novo-livro/. Acesso em 31. Out.2022.