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CAVEIRA ?RAIZ?

A minha história.


Wesley Gimenez.



RESUMO.


Este artigo é um pouco diferente dos anteriores. Trata-se de uma narrativa, portanto, perde o perfil acadêmico para dar lugar ao perfil autobiográfico. O objetivo é demonstrar como uma mentalidade caveira pode fortalecer seu espírito e impulsioná-lo a superar as adversidades e conquistar seus sonhos, bem como gerar um legado, ser um exemplo.


Com minha história quero incentivar você a também ser um ?Caveira?, alguém tão gentil quanto se pode ser, e letal na mesma medida. Alguém que não pisa em outros para ser maior, e é muito maior quando impulsiona outros a crescerem junto com ele. Dessa forma, a conclusão a que chegamos é a que você não precisa ser ?eu?, mas sim, ser versão ?caveira? de si mesmo.


A mais atualizada, mortal e forte versão de sua própria história.


Palavras-chave: Resiliência. Coragem. Inovação. Performance. Biografia.


 

1        INTRODUÇÃO

 

Ser irritante e agitado é uma das coisas mais comuns para uma criança. A energia que se tem aos oito anos de idade é tão grande quanto os impulsos quase irresistíveis para aprontar as maiores bobagens. Foi assim, como modo de canalizar tanta energia e impulsão para as ?traquinagens? que entrei em um tatame pela primeira vez. Na verdade, o ?tatame? era feito de lona preta e causava dores nos dedões quando a gente esbarrava nele. Mas, mesmo assim, era um lugar mágico.


Acordar cedo, ter que aprontar o quimono, fazer exercícios intermináveis e resistir àqueles dias em que o Sensei que te usar de ?demonstração? não é algo fácil. Porém um dos maiores recursos que o Karatê proporciona, assim como as grandes artes marciais milenares é o conceito de ?Disciplina?.


Esse conceito pode te remeter a um ?conjunto de regras de um grupo? ou a ?uma vida organizada?, mas, para mim, aos oito anos, significava não desistir na centésima flexão, nem no duodécimo abdominal. Significava insistir em chutar mais alto que todo mundo, mais rápido que todo mundo e provar que corria mais, pulava mais, aprendia mais rápido. Disciplina para mim sempre foi sinônimo de persistência e controle.


É por isso que acredito na ideia de uma mentalidade que se desenvolve pela capacidade de olhar sempre em frente. Uma mentalidade que não vê as dificuldades como obstáculos, mas como treinamento para algo melhor. Ainda que fosse chato e difícil levantar cedo para ?apanhar?, havia sempre um aluno que queria ser melhor do que eu, e isso eu não poderia permitir.


A combatividade e a competitividade moldavam o meu caráter para ser mais forte, insistente, aperfeiçoado pelo misto de sentimentos saudáveis, como a autoconfiança e a persistência e outros não tão nobres como a raiva e a ganância por superar qualquer um, em qualquer lugar.


2        Abrindo os horizontes e estendendo a vista: outras artes marciais.


Eu já treinava Karatê há alguns anos. Meu mundo circundava, não só o esporte, mas também o estilo. Sou grato por esse tempo, mas os campeonatos me deixavam louco. Regras e mais regras. Lutas imaginárias e coreografadas. Postura corporal e estética. Não tinha a ver comigo.


Uma certa vez, na final de um campeonato importante, um competidor foi ?desleal? e avançou após o sinal de interrupção pelo árbitro. Era a segunda vez que ele fazia isso e não era percebido pelo Juiz. Lutar dentro das regras me fazia vencer a luta e apanhar dobrado. Não fazia sentido.


Na terceira vez decidi ultrapassar os limites também. Fui desclassificado por ?anti-esportividade?. Saí de alma lavada. Percebi que, se quisesse ser melhor, tinha que superar o conceito de ?regras?. Era preciso sair da luta sem me machucar. E olha que ainda se passariam alguns anos até conhecer o Krav Maga.


Entrei no Kickboxing, fui conhecer o Jiu Jitsu (com e sem kimono), decidi aprender golpes de capoeira com um amigo, tentei o Sanda, enfim, fui me misturar. Não queria graduações. O objetivo era ser melhor, mais forte, o mesmo que tinha desde os oito anos.

Novos horizontes exigem novos desafios. Nenhuma nova percepção vem sem um novo problema a ser enfrentado.


Era a hora de me aventurar pelo mundo. Passar num concurso para ?agente penitenciário? (atual polícia penal) aos 18 anos e ver de perto que a maldade não conhece regras ou limites. Nunca havia ouvido falar de ?facções criminosas? e ver pessoas mortas era algo longe da minha realidade. Percebi que apenas ?saber lutar? não bastava.


Era preciso entender de ?sobrevivência? antes de saber como socar ou chutar alguém. Novamente os horizontes se abriam.

Enfrentar o crime por mais de 10 anos dentro de penitenciárias, vivenciando e estudando linguagem, pensamento, comportamento da mente criminosa era um desafio. Entrar em um pavilhão com duzentos presos soltos, desarmado, era um absurdo até ser feito. Exigia mais do que coragem. Era necessário uma dose de loucura.


O nível de atenção no máximo faz com que você antecipe reações, leia comportamentos e somado à habilidade marcial, me fez perceber que eu deveria superar medos e ?restrições?. Se fosse preciso, para sobreviver, eu estaria disposto a matar? Uma coisa é falar, outra é fazer. Como disse um homicida dentro do pavilhão uma vez: ?A primeira vítima é difícil, sinhô...da segunda em diante fica mais fácil?.


Se a mentalidade dele era essa...como poderia combater tal sede de sangue? Eu me senti acuado, mesmo sendo maior e mais forte que quem me dizia tal sentença absurda. Minha faixa preta não me serviria diante de tantos e com tal ímpeto e maldade. Foi a hora de conhecer o que era ?defesa pessoal de verdade?.


3        Krav Maga e o legado de Imi lichtenfeld.


Quando mandei as fotos das minhas mãos para o Júnior, meu colega de república, ele não acreditou. Os ?nós? dos dedos estavam em carne viva. Emagreci oito quilos no treinamento. Voltei acabado do Rio de Janeiro, mas realizei o sonho de aprender o Krav Maga. Agora era hora de repassar o que aprendi e memorizar cada técnica. Júnior já era meu companheiro de treinos de karatê, agora começávamos a explorar o Krav Maga.


Ensinar o que aprendi era difícil. Além disso, eram técnicas ?letais?, coisas que nunca tinha aprendido. Com o passar do tempo, percebi que algumas técnicas funcionavam bem com pessoas maiores, mas com o Júnior, que é menor que eu, exigia adaptações. Meu amigo me perguntava o ?porquê? de cada movimento.


Meu primeiro impulso era imitar o que aprendi a responder: ?Por que Imi ensinou assim?. Foi ensinando que percebi que a resposta não era satisfatória. E lendo sobre Imi, percebi que não seria a resposta dele também. Até nisso era preciso mudar.


Quando viemos transferidos para a região de Presidente Prudente eu decidi dar aulas. Foram 2 anos com cerca de dez alunos. As aulas eram de uma hora e meia. Não tínhamos força suficiente para sair do treino direto para casa, por isso ficávamos em frente da academia conversando. Esse foi um tempo de grande aprendizado.


Fiz eles sofrerem, eu sei, mas aprendi muito também. Demoraram um ano para subir para a primeira faixa. Eu já adaptava técnicas, fazia simulações, já tinha até aparecido na TV em uma reportagem. Foi quando começaram os ataques das ?Federações?.


4        Guerra de Egos.


Quem inventou a luta? Quem ensinou o homem a improvisar armas rupestres para matar animais ou para se defender de predadores? Ninguém. O instinto de sobrevivência é inerente e por isso ?nascemos para lutar?. A vida moderna só mudou o foco e as estratégias, mas continuamos ?na luta?. Assim como nos tempos antigos, a briga por poder estimulou formas diferentes de manipulação. O orgulho, pecado favorito do diabo, gerou os primeiros monarcas e reis. E o ego virou deus.


Eu era um peixe pequeno. Apenas um artista marcial talentoso e jovem. Cada dia da minha vida, desde os oito anos eu lutei e pensei em luta. Era óbvio que tanta persistência geraria um corpo potencialmente hábil e forte para exercitar o Krav Maga.


Minha mentalidade e os valores transmitidos por meus pais consolidaram uma mentalidade que hoje eu sei que era ?caveira? desde o início. Não quero ser melhor que ninguém. Se sou é porque tento mais, erro mais e me esforço mais. Ponto final. Se quiser me superar, faça mais do que eu e garanto que estarei na plateia a te aplaudir.


Não é assim com todos. Comecei a ser perseguido por antigos ?Mestres?. Meu ?blog? (na época) foi atacado. Fui ameaçado de morte, ligavam para a escola onde eu ministrava aulas, ameaçando os proprietários de processo. Os primeiros vídeos no Youtube eram despretensiosos. Eu só queria que mais alunos entrassem na academia. Sentei-me com o Júnior, meu velho amigo em um lanche e no meio da Coca-Cola ele me disse uma frase: ?Você só será um líder se criar um líder também?.


Estava na hora de arriscar. Criei o ?método Caveira?. O início foi difícil. Precisávamos de ?identidade?. Veio a Caveira. Símbolo universal de perigo e igualdade. Precisávamos de um ?código de conduta?. Eu e o Júnior pensamos nos dez princípios. Era preciso ser leal à tradição sem ficar atado à ela. Adotamos o Hebraico, o hino, a bandeira, o respeito, os cumprimentos e principalmente o legado de Imi Lichtenfeld.


Cresci. Explorei defesas e ataques de diversas artes marciais em diversas situações diferentes. Fui a vários países conversar e treinar com mestres em diversas artes marciais. Voltei de cada especialização mais convicto de que o Krav Maga Caveira era o melhor método do mundo e continuaria evoluindo para nunca ser superado.


O Krav Maga tornou-se minha vida, meu sustento e por fim, meu estilo de viver e pensar. Nos momentos ?escuros?, em que as pressões, os xingamentos, as difamações e as críticas de ?Krav Maga pirata? me deixavam triste, um testemunho de um aluno que saiu de uma briga. Uma adolescente que escapou de um assalto.


Ou mesmo um profissional que imobilizou um ?ladrão? com uma técnica Caveira, me dava forças para seguir em frente. Minha esposa apostou tudo comigo. Quando decidi que não aguentava mais entrar em um pavilhão e sentir ódio sobre mim 24 horas por dia, ela me apoiou sem saber se eu teria renda para nosso sustento, vivendo exclusivamente do Krav Maga Caveira.


As pressões foram aumentando. Mas os alunos também. Os vídeos postados nas recentes ?redes sociais? repercutiam. Fizemos reportagens para a Band, para a Globo e SBT regionais. Inaugurei minha primeira ?Sede?. A Caveira gigante chamava a atenção. Apostei tudo o que tinha (e o que não tinha) mas fui recompensado por Deus. Sonhei alto e alcancei um sucesso muito rápido com a postagens de vídeos praticamente sem edição.


E quanto mais pressão e ofensas dirigiam a mim, mais eu decidia responder com trabalhos e resultado.

Não dá para contar os detalhes aqui. Contudo. Em pouco mais de três anos me tornei o maior canal de defesa pessoal do Brasil. Hoje sou o maior canal do Mundo em Krav Maga e defesa pessoal.


Meus números são astronômicos. Mas isso não me envaidece. O que preenche meu peito de alegria é ver os pequeninos gritarem ?Caveira!? ainda com os braços em ?X? desajeitadamente.

É andar pelos lugares e ver os olhares de respeito e consideração.


É saber que ninguém vai entender tudo que passei para chegar até aqui. Poucos tem a dimensão e esses poucos estão do meu lado hoje. E é isso que interessa. Caveira Raiz é como amigo verdadeiro, raro de se encontrar e impossível de se abandonar. Os desafios não acabaram. Muito pelo contrário, sou mais atacado do que nunca.


Tenho coleções de ?haters?. Pessoas que só conseguem um pouco de visibilidade por falar meu nome e tecer difamações e criar histórias absurdas afim de confundir as pessoas, mas sou um exército de milhões de Caveiras hoje. Milhões de mentalidades sendo formadas, milhares de pessoas que, todo dia me fazem perceber que ? o dia fácil foi ontem?, e que ?o amanhã a Deus pertence?. No Hoje, que se chama ?presente?, sou ?CAVEIRA? e ponto final! Shalom!

 

5        CONCLUSÃO

 

         Esse foi um artigo diferente. Na verdade, foi basicamente um ?storytelling? muito rápido da minha história até aqui. Os detalhes ficarão para o futuro, quando estiver pronto para contar a minha história, já velho e sábio o suficiente para transmitir alguma sabedoria em meio aos episódios revistos, da minha vida, sob as lentes da maturidade.


         Por enquanto esse artigo serve de antecipação. Um pequeno ?drop? das lutas difíceis que enfrentei. Levar um soco na cara é fácil. O difícil é superar críticas, acusações, difamações e ódio destilado todos os dias sobre você. Contudo, ser caveira não é só saber se defender de ataques físicos, mas também ser capaz de superar as mentes doentias e os egos inflados com uma mentalidade que transcende a covardia do achar-se ?dono da verdade?.

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         Shalom é a palavra hebraica para ?paz?, mas que significa muito mais que isso. Transmite um conceito de serenidade e bem-estar em todas as áreas da vida. É ser capaz de encontrar segurança interna, mesmo em meio a uma zona de guerra. Desejo um ?Shalom? para você. Assim como recebe esse ?Shalom? todos os dias nos comentários e interações em meus canais. Saudações! Caveira!