PSICOPATAS ENTRE NÓS: QUANDO O INIMIGO MORA AO LADO
Wesley Gimenez.
RESUMO
O presente artigo discute a presença de pessoas com traços de psicopatia entre a população. Não diagnosticados, essas pessoas são carismáticas, desenvolvem boas estratégias de conquista e dominação e em alguns casos, são capazes de cometer crimes brutais, sem sentirem remorso ou se identificarem emocionalmente com suas vítimas. Encontrar psicopatas em nosso dia a dia é mais fácil do que imaginamos, mas isso não quer dizer que haverá um Hannibal em cada esquina. Há tipos e características intrínsecas a este desvio de personalidade. É importante aprender a se defender, tanto com o corpo quanto com a mente.
A psicopatia é um transtorno de personalidade. Tem origem em eventos neurobiológicos e psicossociais havendo, inclusive, relação com o tamanho da amígdala cerebral durante os 9 anos iniciais de vida do ser humano[1]. Achados científicos recentes, destacam a psicopatia como:
um conjunto de traços de personalidade relacionados à ausência de remorso, baixa empatia, impulsividade, busca por estimulação, além de uma maior dominância social, cuja expressão pode se dar a partir da capacidade de manipular outros indivíduos (VASCONCELOS et al, 2017, p. 151).
Dessa forma, há diversas nuances sobre esse transtorno que o fazem passar desapercebido. Uma delas, a mania sem delírio, um dos nomes antigos da psicopatia, revela um traço de personalidade que se desenvolve na relação interpessoal, em um jogo de poder e dominação, que por vezes, pode chegar à violência.
É nesse sentido que falar de psicopatas do cotidiano tem relação com a defesa pessoal e a segurança pública. É preciso esclarecer que, nem todo psicopata é um assassino e serial killer em potencial, como fazem parecer os filmes e séries. Porém, o transtorno envolve um conjunto de característica que, se inclinadas ao crime, geram grande risco à suas vítimas, mesmo que fora do contexto de violência física e mais ligado à coação moral ou dissimulação (golpes, por exemplo).
Dois pesquisadores, uma psicóloga e um Mestre em economia empresarial[2], ao destacar os mitos e verdades relacionados aos psicopatas do dia a dia, destacam: que:
Psicopatas são dissimulados, inteligentes, não sentem remorso, podem assumir qualquer papel para conseguirem o que desejam, possuem temperamento forte, são impulsivos, gostam de adrenalina, manipulam com facilidade e podem se tornar o seu melhor amigo, se for conveniente (AGUIAR, 2020, p.117).
A descrição é interessante pois, vindo de tais pesquisadores, podemos observar o quanto, ao nosso redor, pessoas se encaixam nessa descrição, seja no trabalho, na faculdade ou até mesmo dentro da nossa própria família. Assim, se torna importante debater como identificar, e principalmente, como lidar com pessoas próximas a nós que se encaixam nesse perfil e que, mesmo não tendo traços visíveis de capacidade para a violência, emitem sinais de que, se precisarem, não sentirão remorsos em ferir, manipular ou enganar alguém, nós, inclusive.
2 PSICOPATAS SÃO MAIS COMUNS DO QUE IMAGINAMOS
A Phd em Psicologia, Martha Stout, em seu livro ?Meu vizinho é um psicopata? traz um dado interessante. Cerca de 4% da humanidade pode ser classificada como sociopata, psicopata ou diagnosticada com algum transtorno de personalidade. O que isso significa? que uma a cada 25 pessoas pode ser uma psicopata.
Para efeito de comparação, a autora explica que há menos anoréxicos, pessoas tratando câncer de cólon e esquizofrênicos (doenças tratadas como epidêmicas ou em estágio estatístico ?alarmante?) do que psicopatas na sociedade. Literalmente ?Sem o menor sinal de culpa ou remorso, uma em cada 25 pessoas pode fazer absolutamente qual quer coisa?.[3]
É importante reiterar, no entanto, que nem todos são violentos. O cerne da questão está na falta do que chamamos de ?empatia? ou ?consciência?, o que pode levar a pessoa a reagir de maneira inesperada ante uma situação limite. Contudo, ambientes saudáveis podem auxiliar quem possua um traço de personalidade sociopata a viver longe do estereótipo hollywoodiano de psicopatia violenta.
A psicóloga Kátia Mecler[4] conta o caso do James Fallon, pesquisador e professor de psiquiatria e comportamento humano que, ao analisar imagens tomográficas de psicopatas notou a ausência de atividades em áreas cerebrais ligadas à empatia, moralidade e autocontrole. Ao analisar um caso semelhante de falta de atividade nessas áreas, Fallon se espantou ao perceber que se tratava de uma tomografia de seu próprio cérebro.
O pesquisador conversou com parentes e amigos e percebeu que ele mesmo tinha traços de sociopatia que eram inibidos pelo ambiente saudável em que fora criado, bem como o que vivia no momento, ainda que seus amigos e parentes tivessem destacado que ele possuía comportamentos, por vezes, ?estranhos? e que nem o próprio pesquisador percebia.
A discussão acerca da influência do ambiente sobre a formação e mudança na personalidade é muito debatida, e não é o escopo do artigo entrar nessa seara, no entanto, é preciso perceber que em um mesmo ambiente haverá um número diverso de personalidades atuando, e quanto mais insalubre for o ambiente, mais difícil tende a ser as personalidades presentes. Um ambiente ?saudável? tende a ter menor chance de conter psicopatas ?violentos?, no entanto, não isenta a existência desses, já que são mais comuns do que imaginamos. Devo sempre buscar, por proteção, um ambiente mais saudável em meu cotidiano? Claro, mas não só isso.
3 COMO IDENTIFICAR UM PSICOPATA?
A psicóloga Ana Beatriz Barbosa, famosa por seus livros ligados à assuntos da mente, declara sobre a psicopatia: ?Se existe uma "personalidade criminosa", esta, se realiza por completo no psicopata. Ninguém está tão habilitado a desobedecer às leis, enganar ou ser violento como ele.?[5]
E como posso reconhecer, evitar ou mesmo lidar com um psicopata que encontre no meu cotidiano. Algumas dicas e observações podem ser feitas e assim, destacar a importância da autoproteção e da capacidade de ligar com todas as situações e com todas as pessoas, tanto as que se encontram em situações limítrofes, emocionalmente falando, quanto aqueles que dissimulam e manipulam pessoas (e a nós mesmos) durante a nossa trajetória de vida (profissional e pessoal).
Nadia Heym, professora de psicologia da Nottingham Trent University destaca cinco coisas que todos precisam saber sobre os psicopatas ao nosso redor: 1) Cada um tem um pouco de psicopata. Ou seja, por se tratar de um espectro, o ditado ?De médico e de louco, cada um tem um pouco? também se aplica à psicopatia. Todos nós temos traços psicopáticos, porém, alguns manifestam mais características que outro. Como já demonstramos, a psicopatia é mais comum do que imaginamos.
2) Nem todo mundo é um ?Hannibal?. Apesar da maioria dos assassinos em série possuírem algum tipo de psicopatia, nem todo psicopata é um assassino em série. Contudo, ele possui muito menos chance de se assustar ou horrorizar com coisas que uma pessoa ?comum? se assustaria. Você já levou um susto com alguém chegando de surpresa? O psicopata tem menos chance de fazer qualquer escândalo quando tentam assustá-lo.
3) Psicopatas são mais ?cidade? que ?campo?. Isso tem a ver com o estilo de vida do psicopata, que prefere a agilidade, o fervor da cidade, à tranquilidade do campo. Suas relações são rápidas, focadas em si mesmo, inclusive no sexo. Por isso, para sexo casual, a cidade é ambiente mais propício que o campo, com seu ideário de estabilidade, família e relacionamentos de longo prazo.
4) Mulheres são psicopatas ?diferentes?. Por mais estranho que pareça a frase, a psicopatia se manifesta no sexo feminino de forma diferente, com mais envolvimento de ansiedade, problemas emocionais e até mesmo maior volume de promiscuidade. Mulheres psicopatas gostam de manipular e seduzir.
5) Psicopatas tem sentimento, mas somente alguns. Segundo a pesquisadora, os psicopatas sentem nojo, felicidade, reconhecem sentimentos como alegria e surpresa, no entanto, tem motivações diferentes e ficam bastante irritados quando se sentem frustrados por não alcançar um objetivo. Como diz Heym: ?Você pode ferir os sentimentos de um psicopata, mas provavelmente sentimentos diferentes e por razões diferentes?.[6]
Além das considerações de Heym, a psicóloga Katia Mecler destaca 10 tipos de psicopata que podemos encontrar em nosso cotidiano. São eles: 1) O esquizóide, o tipo alienado da realidade, geralmente faz o tipo isolado. 2) Esquizotípico, o excêntrico, do tipo Willy Wonka da fantástica fábrica de chocolate, um gênio solitário.
3) Paranóide, se vê perseguido e desconfia de tudo e todos. 4) Antissocial, do tipo que não sente culpa, um predador manipulador capaz de qualquer coisa para se dar bem. 5) Estado-limite, um tipo rebelde e incompreendido, impulsivo, instável e violento, é extremado em tudo o que faz.
6) Histriónico, do tipo que deseja ser o centro das atenções o tempo todo, vive para o sexo e sedução, altamente manipulador e comunicativo. 7) Nascísico, o tipo que se ama. Acha-se admirável e certo de que terá vida e beleza para sempre, egocêntrico e arrogante. 8) Dependente, o tipo inseguro e carente que busca remédio para sua inferioridade, sendo de fácil manipulação e capaz de aceitar tudo para ser aceito.
9) Evitante gosta de recolher-se e tem medo dos sentimentos. É tímido e com baixa auto-estima, sofre com o medo da rejeição e por isso nunca toma iniciativas. E por fim, temos o Obsessivo-compulsivo, do tipo perfeccionista, detalhista e obcecado em tudo. Inteligente e sagaz.[7]
É possível que ao ver tais descrições você se identifique ou encare a descrição fiel de alguém próximo a você. Percebe-se que a psicopatia pode estar presente a uma distância muito menor do que imaginamos. No entanto, como já dito, nem todos são psicopatas violentos e planejadores de crimes hediondos.
O importante é se manter alerta, buscar conhecimento, não só de defesa pessoal, mas da sua própria essência, acerca de si mesmo e da incrível complexidade do ser humano. Quem lida com pessoas deve amar pessoas, mas também ser capaz de afastá-las, além de ser hábil em identificar quais dessas pessoas podem ser um risco à sua integridade física, mental ou se há um processo de manipulação em curso. Proteger-se é uma atividade do corpo e da mente. Quanto mais ?caveira? for a mente, melhor protegido se está.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo teve por objetivo tratar sobre a psicopatia que se vê no cotidiano. Conclui-se destacando que podemos encontrar um psicopata a cada 25 pessoas que conhecemos, ou seja, na sua lista de amigos do facebook ou naquele grupo do Whats ou do Telegram há pelo menos 4% de psicopatas conversando, rindo (ou não) das piadas e debatendo os temas compartilhados a partir de uma percepção ausente de consciência ou empatia.
Nem todos os sociopatas ou psicopatas são violentos. Contudo, é preciso perceber que os que são, não sentirão remorso ou culpa pelo que fizerem de ruim, afinal, o que lhes importa e não sair frustrados, havendo mais preocupação consigo mesmo do que com a ?vítima?, mesmo que essa seja considerada uma pessoa ?amiga?.
Alguns livros foram sugestionados no artigo, de modo que, mergulhar na leitura deles pode enriquecer ainda mais o conhecimento acerca da personalidade humana e seus desvios. Aprender sobre si mesmo e sobre a potencialidade do ser humano para o bem e para o mal faz parte das estratégias mentais de sobrevivência neste mundo complexo em que vivemos. É preciso ser caveira de corpo e mente. Shalom!
AGUIAR, Ângela Maria. Psicopatia: revelando mitos e verdades por trás do diagnóstico. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, v. 24, n. 50, p. 116-129, 2020.
HEYM, Nadia. Five things everyone needs to know about psychopaths. 9 de Julho de 2019. Disponível em: <https://www.iflscience.com/brain/five-things-everyone-needs-to-know-about-psychopaths/all/> Acesso em 15.Set.2021.
MECLER, Kátia. Psicopatas do Cotidiano. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2015.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa, Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro: Fontanar, 2008.
STOUT, Martha. Meu vizinho é um psicopata. Rio de Janeiro: Sextante, 2010.
VASCONCELLOS, Silvio Jose Lemos et al. A cognição social dos psicopatas: achados científicos recentes. Estudos de Psicologia (Campinas), v. 34, p. 151-159, 2017.
VAZ, Andreia. 10 tipos de psicopatas e onde encontrá-los. 27.Jun.2016. Disponível em: <http://www.revistaestante.fnac.pt/10-tipos-psicopatas-os-encontrar/> Acesso em 14.Set.2021.