RESUMO

Este artigo trata das invas�es residenciais, tanto para furto quanto para roubo (em que se emprega viol�ncia ou grave amea�a). Os bandidos s�o astutos e planejam suas a��es, contudo, oportunidades tamb�m s�o aproveitadas, quando a v�tima oferece uma possibilidade real de ganho r�pido e sem riscos.

Minimizar essas chances auxiliam o aumento da seguran�a pr�pria e da fam�lia. Barreiras estruturais e comportamentais ajudam a preven��o. No cen�rio mais terr�vel, em que se est� sob a amea�a iminente ou atual, a rea��o deve ser considerada, mas h� aspectos a que se precisa estar atento.

N�o basta s� estar pronto a reagir, � preciso saber como e quando fazer isso, avaliando a real necessidade e pesando todas as consequ�ncias. Apesar disso, em caso de efetiva necessidade, � preciso que a rea��o seja contundente e neutralize completamente a amea�a.

Palavras-chave: invas�o. Resid�ncia. Roubo. Crime. Preven��o. A��o.

1 INTRODU��O

Um dos reflexos da falta de seguran�a em �rea urbana � a mudan�a na configura��o e layout das resid�ncias nas cidades. Durante meu per�odo como agente penitenci�rio (atual pol�cia penal), tive a oportunidade de trabalhar em duas cidades pequenin�ssimas. Ambas com menos de 3 mil habitantes. Era comum, chegarmos pouco antes das 6 horas da manh� na Penitenci�ria, cruzando a cidade antes, e vendo in�meras casas com janelas e portas abertas, mesmo com seus donos ainda dormindo.

Por incr�vel que pare�a, a cidade era t�o pacata, e pobre, que as pessoas passavam horas �s portas das pr�prias casas, em cadeiras, conversando entre vizinhos e indo dormir, sequer preocupavam-se em trancar ou mesmo fechar as portas e janelas. N�o havia sensa��o de risco. Poucos meses depois da instala��o das penitenci�rias, no entanto, com o fluxo de visitantes aportando aos finais de semana, a configura��o da cidade muda a olhos vistos.

De repente, as casas est�o fechadas e janelas trancadas. Nota-se aumento de c�es nos quintais. Muros s�o aumentados, casas com cerca el�trica, a dos mais abastados tem at� c�mera. Reflexo do ?progresso?. E se a mudan�a em pequenas cidades � percept�vel, diante do aumento da criminalidade e do fluxo populacional, nas cidades de m�dio e grande porte isso � ainda mais evidente. Condom�nios proliferam.

A venda de apartamentos com porteiros e infraestrutura mais segura vai surgindo e valorizando o metro quadrado de moradia. Enfim, o cidad�o vai criando muros e prote��es, isolando-se ao m�ximo do risco de vulnerabilidade diante do crime.

Mas, nem sempre isso ajuda. O anu�rio brasileiro de seguran�a p�blica 2022 informa que houve um aumento de quase 5% na taxa de roubos a resid�ncias. Isso fez com que a sensa��o de inseguran�a se intensificasse e, em uma pesquisa realizada em S�o Paulo, mais de 90% das pessoas assinalarem medo de serem assaltadas.

Com o isolamento provocado pela pandemia, o n�mero de assaltos a transeuntes diminuiu, por�m, a invas�o de casas por assaltantes aumentou. Dessa forma, tratar sobre este tema � importante para entender o que fazer em uma situa��o em que a casa � o alvo do bandido. Quando o lar n�o � mais o lugar ?seguro? que se espera. E se algu�m tentar invadir a minha resid�ncia? Que alternativas eu tenho? Como posso minimizar o risco de ser assaltado ou ferido durante o roubo? E se eu reagir? Posso fazer isso?

Esse e outros temas ser�o tratados neste artigo, havendo a ressalva �bvia de que n�o se esgotam todas as dicas e que nem sempre todas as pessoas concordam com alguns dos posicionamentos aqui destacados. Inclusive dentre especialistas de seguran�a, uns acreditam mais e outros menos, em algumas das dicas que aqui ser�o fornecidas. Contudo, � importante utilizar o bom senso e avaliar o contexto f�tico.

2 O que � uma ?oportunidade? para o bandido.

O criminoso � um pregui�oso por excel�ncia. Busca ter de maneira f�cil e r�pida aquilo que n�o conseguiria com trabalho, dedica��o e criatividade. Assim, unindo-se aos que v�em ?l�gica? no assalto, o bandido justifica sua a��o baseando-se na ?falta de oportunidades? e ?vitimiza��o?, reproduzindo um discurso de que ?a sociedade o criou assim?.

Partindo dessa mentalidade, o bandido acha ?justo? apropriar-se de bens alheios. E procura uma oportunidade, seja em um furto casual, seja em um assalto planejado, uma forma de desapropriar, para si, algo que seja um desejo inalcan��vel por meio do suor, esfor�o e trabalho. Objetos deixados em um carro ao relento, port�es abertos e muros baixos. Lugares ermos e com pouco tr�nsito e vigil�ncia, s�o condi��es ideais para o bandido.

As novas configura��es urbanas, que se isolam em altos pr�dios e condom�nios de luxo s�o resultado do medo e da ang�stia do cidad�o, de manter seguro os bens que possui. Haja vista a criatividade dos criminosos, que se passam por entregadores, moradores de pr�dios de luxo, recenseadores do IBGE e entregadores dos Correios

ou at� entregadores delivery, isolar-se n�o tem sido o suficiente, e h� sempre o risco de ter a casa ou apartamento invadido.

O que vai definir se isso tem maiores ou menores chances de acontecer � a capacidade de preven��o bem como as oportunidades para o bandido. A maioria dos crimes s�o premeditados, havendo uma an�lise da rotina da fam�lia e o n�vel de seguran�a da rua ou da casa onde se deseja assaltar. Informa��es s�o levantadas, tais como se h� cofres, armas ou dinheiro em esp�cie e joias na localidade, a fim de que seja ?bote certo? ou ?fita dada?, como dizem os meliantes.

Por vezes, aquela ?passada r�pida? em casa, deixando port�o destrancado ou aberto. Para buscar algo r�pido no interior da casa, pode ser o momento certo do criminoso agir. Ainda h� o sil�ncio da madrugada, em que a facilidade de acesso ao interior do quintal da resid�ncia ou a facilidade de escalada dos muros, ou acesso a janelas abertas, oportunizam ao criminoso a invas�o do local.

Fotos das F�rias em tempo real. Aporte da localiza��o em tempo real no Facebook, alertando que est�, naquele momento, no aeroporto pegando um avi�o, d�o a dica a bandidos que a casa se encontra desprotegida. Luzes acesas durante o dia, avisos de f�rias nos e-mails, nas mensagens autom�ticas em aplicativos de mensagem, al�m de outras a��es, aparentemente inofensivas oferecem importantes dicas de quando e onde os bandidos devem agir.

Assim, minimizar as ?oportunidades? � tamb�m minimizar os riscos. Ao entrar em casa, crie uma rotina segura de fechar os port�es, ou a porta, enquanto estiver na resid�ncia. Se h� muros baixos na casa, n�o assista televis�o com a porta da sala aberta. Ao entrar na garagem de casa, com ou sem port�o eletr�nico, acione-o para abrir um pouco antes de voc� entrar, mas antes, verifique se n�o h� algu�m suspeito pr�ximo � casa. Se houver, d� mais uma volta no quarteir�o, avise a quem estiver em casa para n�o sair, e chame a pol�cia para verificar.

Instale c�meras, se o bairro onde mora est� em uma zona com muitos furtos e roubos. Isso n�o vai impedir que ladr�es assaltem sua casa, mas intimidar�, pelo medo de serem descobertos. Cercas el�tricas, ou at� mesmo barreiras f�sicas (os populares ?cacos de vidro? nos muros) s�o eficientes, ainda que n�o impossibilitem a invas�o. Possua contato com os vizinhos, ou mesmo, fa�a ou monte um conselho de seguran�a na vizinhan�a, facilitando um alerta geral, caso haja movimenta��es suspeitas na rua ou bairro onde mora.

Havendo boa coopera��o, at� mesmo seguran�as particulares ou empresas de monitoramento de bairros podem ser contratados em conjunto.

Essas e outras a��es podem restringir os roubos e invas�es por oportunidade. V�o intimidar os monitoramentos de v�timas e aumentar a sensa��o de seguran�a. Contudo, pode ser que um dia, voc� se depare com algu�m tentando entrar em casa. O que fazer?

3 Est�o tentando invadir. E agora?

A primeira coisa � manter a calma. Por mais dif�cil que seja, � preciso diminuir as chances de que um ataque de p�nico fa�a com que atitudes impensadas aumentem o perigo. Se voc� tem uma mentalidade caveira, j� tem protocolos de seguran�a criados. J� combinou com sua fam�lia que, em caso de tentativa de invas�o, todos ser�o alertados silenciosamente. J� sabem que devem ir ao ?quarto do p�nico?, ou seja, um c�modo da casa que possua a porta mais forte ou mais obst�culos � entrada, e que possa servir para ganhar tempo at� que a pol�cia chegue (o que pode demorar).

N�o fique preocupado com bens materiais, isso � recuper�vel. Alerte o mais rapidamente poss�vel as autoridades. Coloque todos os telefones em modo silencioso para evitar que denuncie onde voc� est�. E se esconda at� que a pol�cia chegue. Essa � a dica b�sica de seguran�a para quem pode evitar o confronto.

Caso seja pego de surpresa, n�o tente reagir de imediato. Escaneie a amea�a e decida conforme o n�vel de perigo. �s vezes, assustar o bandido o far� correr (caso se trate de apenas um n�ia sozinho, por exemplo), no entanto, � preciso presumir que o bandido esteja armado e atitudes precipitadas podem levar � morte. Tenha plenamente fixado na mente at� onde voc� ?obedecer�? aos comandos dos criminosos. A sensa��o de poder nas m�os pode levar o criminoso a escalonar a viol�ncia.

Uma resist�ncia verbal firme, por vezes, pode inibir essa escalada, mas esteja preparado para assumir o risco apenas quando o que se pede pode gerar danos irrevers�veis, como o desejo de estuprar uma mulher da casa ou a tentativa de sequestro ou assassinato de algu�m da casa.

Caso ainda haja possibilidade de rea��o antes de ser pego ou mesmo que haja uma janela de oportunidade de rea��o, esteja preparado, f�sica e mentalmente para isso. N�o � f�cil e nunca ser�. Simula��es mentais auxiliam a capacidade de rea��o e esta deve ser a �ltima medida. No entanto, se for necess�ria. N�o perca tempo dando socos e chutes. Atinja pontos vitais, neutralizando a amea�a mais pr�xima ou em linha de comando.

Ao atingir letalmente o chefe, os subordinados correm. Contudo, na escala de prioridades, a amea�a mais pr�xima � prefer�vel. N�o tenha ?d�?. Por mais ?malvado? que isso pare�a, � a rec�proca do sentimento do bandido. Se precisar enfiar seu indicador no globo ocular do bandido, fa�a! se precisar, para proteger sua vida, arrancar a jugular dele com os dentes, fa�a!

Se precisar atingir seus test�culos com o objeto mais pesado poss�vel � m�o, ou enfiar a caneta em cima da mesa em seus ouvidos, fa�a! Um segundo de hesita��o � a diferen�a entre viver e morrer, no caso de uma rea��o necess�ria para salvar uma vida.

� por isso que muitos lutadores e faixas pretas morrem em assaltos. Sua mente est� condicionada � rea��o t�pica, com socos no rosto, peito, e chutes que, ainda que fortes, podem n�o neutralizar a amea�a, e pior, faz�-la ficar ainda mais irritada.

Se for para reagir, aniquile a amea�a at� neutralizar as chances de rea��o. N�o v� al�m disso, pois o abuso � pun�vel, mesmo em uma situa��o de invas�o de domic�lio. A legisla��o brasileira tem diversas lacunas que, infelizmente, protegem bandidos, mesmo em estado de flagrante delito. Contudo, se criminosos invadem sua casa, esteja pronto, mentalmente pronto, a fazer tudo que puder para garantir a sua seguran�a e da sua fam�lia.

Por fim, se poss�vel adquirir uma arma de fogo (legalizada, �bvio), a tenha com total seguran�a, em lugar de f�cil e seguro acesso. Encontre um local em que possa se proteger, e uma vez que o bandido adentre o limiar do seu territ�rio, atire sem pestanejar. As �reas do peito s�o mais f�ceis de acertar, contudo, o mais importante � evitar a invas�o. N�o d� tiros de ?alerta?, isso s� far� o bandido revidar, se estiver armado.

N�o conte com a tentativa de ?prend�-lo?, a n�o ser que perceba que ele est� desarmado e voc� possua, em casa, meios de cont�-lo, com algemas ou cordas. Do contr�rio, n�o o encare como advers�rio de ringue ou de tatame. O bandido n�o � isso. Ele � seu inimigo. E de inimigos, n�o se tem pena. Como diz o velho jarg�o policial: ?Quem perdoa � Deus, a gente s� promove o encontro?. Caveira!

4 CONSIDERA��ES FINAIS

Este artigo trata da inseguran�a das habita��es urbanas. O perigo das invas�es de resid�ncia, principalmente durante e ap�s o per�odo pand�mico demonstram que criminosos est�o cada vez mais audaciosos e sentem que a impunidade e a letargia das prote��es estatais facilitam sua atua��o.

No entanto, h� meios de minimizar os riscos. H� formas de se proteger, e � sua resid�ncia. Nem todos possuem condi��es de ter armas ou vidros blindados, portas refor�adas e sistemas completos de seguran�a. Os que podem est�o em melhor situa��o, contudo, considerando o cidad�o de renda m�dia, habitando em lugares comuns e suscet�veis a assaltos, � preciso estar preparado, f�sica e psicologicamente, para saber o que fazer e como fazer.

O Krav Maga Caveira � uma prepara��o f�sica e mental contra a viol�ncia urbana. Preparamos o corpo e a mente para situa��es de autodefesa e combate armado e desarmado. � por isso que, sendo uma arte marcial , � tamb�m um sistema completo de defesa pessoal. Saber o que fazer diante da necessidade de reagir. Fortalecer a mente a estar disposto a ser t�o ou mais violento que o bandido, se a situa��o o exigir.

?Estar pronto para ser resistente, explosivo e focado quando necess�rio, s�o habilidades cultivadas por um caveira. E � isso que faz dessa arte, a mais letal do mundo. Shalom!

5 REFER�NCIAS

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