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QUANTO VALE A IGNORÂNCIA?

A paixão pela ignorância na sociedade do conhecimento.


Wesley Gimenez



RESUMO


Este artigo discute o valor do conhecimento, mas vai além, tratando principalmente do tamanho do prejuízo causado pela ignorância. Em uma sociedade em que cada vez mais a tecnologia disponibiliza um volume incalculável de informações, a ?paixão pela ignorância? pode ser considerado um novo ?mal do século?.


Preferível o fácil, as falácias, o autoengano, ao esforço pela busca de um conhecimento útil, que ilumina, que orienta, e sobretudo, protege. Abraçar a ignorância e ficar desprotegido, é aceitar mentiras ?confortáveis?, cair na tentação da alienação que faz com que decidam por você. A defesa pessoal deve ser entendida não só como a capacidade antever situações de perigo, mas de se apropriar de conhecimentos, técnicas e habilidade que transformem o ambiente em um lugar mais seguro.


A ilusão pode ser uma droga tão letal quanto as substâncias psicoativas vendidas em ?bocas?. Viver em ignorância, obscuridade, ilusão, é abraçar o perigo, dando oportunidade a opressores, dominadores e destruidores da vida, família, finanças e capacidade de escolha dos seres que se deixam dominar.


Uma mentalidade caveira jamais aceitará as trevas da ignorância em detrimento à proteção que o conhecimento traz.


Palavras-chave: Obscuridade. Conhecimento. Proteção. Mentalidade. Sabedoria.

 


1        INTRODUÇÃO

 

A famosa frase ?Sei que nada sei?, atribuída ao filósofo grego Sócrates é, na maioria das vezes, mal compreendida. Sócrates não louvava a ignorância, pelo contrário. Seu método, a maiêutica, buscava retirar, da contínua curiosidade das perguntas, o conhecimento que, por vezes, estava encoberto pelas ?certezas?.


Assim, a fim de aprender cada vez mais, e dessa forma, ser mais sábio, era preciso andar sempre de ?copo vazio?, pronto a um novo conhecimento.

A má compreensão da frase socrática leva pessoas a louvarem a ignorância sobre aspectos essenciais da realidade. Já tratamos anteriormente do perigo da alienação, contudo, há os que encontram no ?não-saber? um conforto estranho. Na verdade, Yuval Noah Harari, uma das mentes mais brilhantes da atualidade evoca o que pesquisadores chamam de ?ilusão do conhecimento?.


Trata-se da velha mania humana de buscar aproximar-se de quem comunga as mesmas ideias, uma espécie de ?espírito de grupo? que, afinal, dá consolo de todos pensarem de forma igual.


Isso não é de todo ruim, no entanto, a depender do grupo em que se faz parte e da sua posição no grupo, pode ser que você esteja sendo manipulado todo o tempo. Como diz Harari: ?O mundo está ficando cada vez mais complexo, e as pessoas não se dão conta de quão ignorantes são?.


É por isso que pessoas totalmente leigas em geopolítica, sociedade, economia ou direito são eleitos para cargos legislativos (ou ainda, executivos) baseado em quão famosos ou engraçados são. E o chamado ?voto de protesto? sai pela culatra e vira atestado de louvor à ignorância. Buscar o saber dá trabalho.


2        Conhecimento como meio de Proteção.


Napoleão Bonaparte, controverso líder guerreiro, é um dos maiores estrategistas da história. Algo que até seus inimigos admitiram. Seu sucesso, segundo o próprio Napoleão se devia, principalmente a seu gênio, ou seja, ao uso eficiente do conhecimento.


?Não existem grandes ações contínuas que sejam obra do acaso e da sorte; elas sempre decorrem da combinação e do gênio?.

O Próprio Napoleão dizia utilizar-se da matemática e da probabilidade como meio de prever ações de guerra. Essa capacidade não vinha de acaso ou do que chamavam de ?sorte?. Napoleão cuidadosamente estudava, buscava prever e antever ações inimigas, estar previamente preparado para tudo e ser capaz de adaptar-se rapidamente às circunstâncias.


Dizia ele: ?Na guerra, nada se consegue senão pelo cálculo. Tudo aquilo que não for profundamente meditado em seus detalhes não produz qualquer resultado?.

O que se pode extrair da frase é o que vivemos a repetir nos tatames: Treino difícil, luta fácil. Quanto mais familiarizado se está com o combate, com as formas de ataque, as variabilidades do ambiente e a necessidade de constante adaptação, mais conhecimento e habilidade se acumulam, por reflexão e pelo cálculo, cada vez mais automático, das probabilidades que a situação apresenta.


Assim, o treinamento em autodefesa não é um desperdício de tempo ou esforço na ?era da pólvora? ou no ?tempo da paz?. É cálculo e antecipação, previdência que salva vidas e preserva a integridade física.


Os psicólogos americanos David Alan Dunning e Justin Kruger sugerem que pessoas com baixo conhecimento e experiência sobre algo tendem a superestimar suas habilidades e conhecimentos. É o chamado Efeito Dunning-Kruger. Assim, por esse viés cognitivo, quanto mais ignorante a pessoa, mais certeza ela tem de que é ?o cara? em tudo o que sabe e faz.


A ignorância leva o incauto a achar que está seguro. Ilude, pela contínua pressão da coletividade, a acreditar que o mundo é um lugar pacífico e civilizado. Como diz o professor Eleri Hammer ?os ignorantes (aqueles que ignoram) são os que tem mais certezas?. Certezas que incluem a ideia de que nada acontece com ele, ou que muros altos, cercas elétricas ou morar na ?cobertura? o colocarão fora de alcance da violência ou do infortúnio.


É menos trabalhoso deixar que outros decidam. Que ?especialistas? digam o que fazer. Raciocinar é difícil. Tomar decisões sozinho é ainda mais angustiante. A partir daí, a tentação é cair nos braços doces da ignorância, que sufoca com o travesseiro fofo da resignação.


3        Conhecimento é caro? experimente calcular o custo da ignorância.


Quando se contrata um seguro, a busca é o que oferece melhor ?cobertura? pelo menor custo possível. A busca é por ?nunca precisar utilizar?, mas ao mesmo tempo, se preciso, evitar o máximo de prejuízo possível, dentro do menor custo de tempo e esforço.


Para isso, buscamos os melhores consultores de seguro e pesquisamos muito. Ninguém é obrigado a contratar o seguro oferecido, no entanto, assume automaticamente o risco de ter um prejuízo muito maior do que o custo anual da proteção. Tudo passa a ser uma questão de ?probabilidades? tanto para a seguradora, quanto para o segurado.


Na defesa pessoal, residencial, física e emocional, o investimento é um ?seguro?. O desejo é nunca precisar usar, mas se o caso, ser capaz de aniquilar a ameaça no menor tempo e utilizando o menor esforço possível, com o menor prejuízo físico, emocional ou pessoal possível. Cícero, famoso filósofo e senador romano disse: ?nada perturba tanto a vida humana como a ignorância do bem e do mal?. E isso se aplica a quase tudo em nossa realidade atual.


Ignorar os perigos, as ameaças já é algo ruim, colocando-nos em posição de vulnerabilidade. O pior, no entanto, é não perceber as oportunidades perdidas. O lucro que se alcança com o conhecimento é somado como ?prejuízo? se este conhecimento não é aplicado. E a ignorância, aparentemente inofensiva, se torna amarga na boca de alguém que vê outro aproveitar a oportunidade e ?evoluir? em quaisquer aspectos da vida.


Essa percepção do ?custo da ignorância? fica ainda mais evidente quando se entende que ela se esconde até mesmo atrás de títulos acadêmicos e supostas conquistas ?intelectuais?. Não se deve reduzir o termo ?ignorância? apenas ao aspecto cognitivo, mas ampliá-lo para o ?querer aprender?. Ao enxergar como o conhecimento é útil e aplicável, uma pessoa com ?mentalidade caveira? não vai avaliar apenas seu desenvolvimento acadêmico, mas o unirá a múltiplos conhecimentos, competências e habilidades necessárias ao seu pleno desenvolvimento e diferenciação.


O mundo é violento não só na questão da criminalidade, mas também nos negócios, na faculdade, na família, no círculo social etc. Quantos mais ?armas? se tem, menos vulnerável se é. A inteligência, advinda da captura das melhores informações, aplicada com os melhores métodos e refinada com os melhores mentores, acrescenta tanto, que a sensação de não a possuir traz a frustração da ignorância. E o preço é proporcional.


É possível perceber que a ignorância cobra seu preço ?involuindo? o afetado por ela. O professor Walber Gonçalves de Souza destaca:

A ignorância acaba por incentivar e estimular o lado animalesco que temos. Desta forma não adianta ter um diploma universitário e continuar ignorante, passar pela escola e não aprender nada, viver em grupos sociais que estimulam a busca pelo conhecimento e não ler sequer um livro. Infelizmente a ignorância se esconde por detrás de muitos diplomas, medalhas ou títulos.


Vivemos tempos paradoxais, temos tudo que nos leva ao conhecimento, mas o que vemos é a preferência pela enganação de si mesmo. E repito, o preço que pagamos é alto demais. Nossa ignorância nos priva das oportunidades, afasta os melhores postos de trabalho, e coletivamente não nos desenvolvemos, não criamos cenários de otimismo, não possibilitamos que outros acreditem em nós.


Em suma, nos tornamos animais reativos. Tudo é feito e calculado a partir da experiência e diversas vezes, uma crença limitante surge da sensação de ignorância em saber que tudo é ?impossível? até ser tentado.


Não se trata de um apelo ?motivacional?, mas de uma constatação simples: Acrescente 1% de melhora a cada dia, e em menos de 1 ano você será alguém totalmente diferente do que é agora. Cresça a uma taxa de 10% ao Mês e você mais que dobrará seu capital anual. Aprenda 1 coisa nova a cada semana e você terá mais de 50 novidades para compartilhar todo início de ano.


Não faça nada e perca tudo isso. Mais ainda, pela lei da entropia, que se aplica à física e também às relações humanas e perspectivas de vida, sua energia se desgasta com o tempo, suas forças minam com a falta de impulsão, manutenção e estímulo. Dessa forma, a ignorância não só é prejudicial pelo que você ?deixa de ganhar?, mas também pelo efeito ?involutivo?, ?entrópico?, que te desgasta cada vez mais.


4        CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este artigo examinou o preço, o custo da ignorância. Em uma sociedade de alto desenvolvimento tecnológico, com algoritmos, inteligência artificial, Block Chain, Criptoeconomia e computação na nuvem, a ignorância tem achado seu lugar e ocupado um protagonismo estranho. O desejo por ?ignorar?, não querer conhecer, achar-se senhor da razão e certezas, faz com que não só o indivíduo, mas toda a coletividade padeça.


Possuir conhecimento blinda contra o processo entrópico de involução. Livra da perda imensurável de oportunidades de ser melhor, de fazer mais, de ser capaz de assumir o protagonismo onde estiver.


De ser capaz de se proteger, de auxiliar no desenvolvimento da sociedade, de amparar e cuidar dos seus com um olhar fixo na melhoria contínua em todos os níveis. Defenda-se sendo melhor que seu adversário. E prepare-se a ponto de não precisar temer ?concorrentes?. Essa é a força da mentalidade caveira. Shalom!


5        REFERÊNCIAS



BONAPARTE, Napoleão. Sobre a Guerra. Organizado por Bruno Colson. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

HAMER, Eleri. Os ignorantes sempre têm certeza. 14.Ago.2018. A TRIBUNA ? MT. Disponível em: https://www.atribunamt.com.br/2018/08/14/os-ignorantes-sempre-tem-certeza/; Acesso em 27.Abr.2022.

HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. São Paulo: Editora SCHWARCZ S.A, 2018.

KURZ, Robert. A ignorância da sociedade do conhecimento. Mar.2003. INFOHOME. Disponível em: https://ofaj.com.br/textos_conteudo.php?cod=26. Acesso em 26.Abr.2022.

MENDONÇA, Carleial. ?A ignorância...o mal dos séculos?. 14.Set.2011. Disponível em: https://administradores.com.br/artigos/a-ignorancia-o-mal-dos-seculos. Acesso em 26.Abr.2022.

SELL, Jurandir. Efeito Dunning-Kruger: será que você sabe tanto quanto imagina? 01.Out.2021. Disponível em: https://warren.com.br/magazine/efeito-dunning-kruger/. Acesso em 26.Abr.2022.

SOUZA, Walber Gonçalves de. O preço da ignorância. 24.Set.2019. Disponível em: https://odefensor.com.br/site/2019/09/24/artigo-o-preco-da-ignorancia/#:~:text=O%20pre%C3%A7o%20que%20pagamos%20pela,mais%20variadas%20formas%20de%20manifesta%C3%A7%C3%B5es. Acesso em 25.Abr.2022.